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Ampliam zona de exclusão de pulverizações após denúncias de vizinhos

Encurralando os agrotóxicos

“O que está em questão é a saúde das crianças e dos adultos”, considerou um juiz federal argentino ao definir “um limite restritivo e de exclusão” para as pulverizações de agrotóxicos na região de Pergamino, na província de Buenos Aires. Em sua sentença, o juiz Carlos Villafuerte Ruzo ampliou para 3 mil metros a distância mínima das regiões povoadas para a aplicação de pulverizações aéreas de agrotóxicos, e para 1.95 metros quando forem pulverizações terrestres.

O magistrado se pronunciou após conhecer estudos que comprovaram a presença de “glifosato no sangue e na urina das pessoas, com um aumento nos marcadores sanguíneos de alterações cromossômicas sérias”.

As pesquisas desenvolvidas também revelaram “um amplo aglomerado de moléculas de pesticidas em água e solo”, confirmando que “a água não estava apta para o consumo humano”.

Em junho passado, um relatório do Supremo Tribunal de Justiça da Província de Buenos Aires constatou a presença de 18 substâncias tóxicas na água potável de Pergamino.

Villafuerte ampliou em sua sentença, emitida no início do mês, uma restrição anterior ao uso de “pesticidas, herbicidas, inseticidas, agroquímicos, produtos fitossanitários, fungicidas, e qualquer outro pacote de agroquímicos”, que proibia a pulverização desses produtos a menos de 600 metros das residências.

Entre as formulações de agrotóxicos afetadas, estão três variantes do RoundUp, o famoso agrotóxico fabricado pela transnacional Monsanto, adquirida pela Bayer.

A decisão do juiz da região de San Nicolás se une à de julho passado, emitida pelo Supremo Tribunal de Justiça da Província de Buenos Aires, proibindo as pulverizações no município de General Pyeyrredón a menos de mil metros dos centros povoados, ordenando a criação de áreas de “desenvolvimento agroecológico”.

Decisões similares foram emitidas em outra das províncias produtoras de soja da Argentina, a de Entre Ríos, embora não tenham sido plenamente respeitadas pelo governo local.

A prova viva

Rocafuerte interveio neste caso, após denúncias dos vizinhos, por terem sua saúde severamente afetada pelas pulverizações com glifosato.

Uma dessas pessoas, Sabrina del Valle Ortiz, perdeu uma gravidez em 2011, justo depois que um avião pulverizador lançasse uma carga de agrotóxicos sobre uma plantação de soja transgênica numa região próxima à sua casa.

Um médico garantiu que ela tinha sido intoxicada pelos agrotóxicos, porém se negou a certificá-la com “medo de ser morto”, segundo afirmou para Del Valle.

Os filhos da Sabrina também foram contaminados, cujos exames toxicológicos revelaram a presença de 100 vezes mais glifosato no sangue do que o tolerado. Foi assim que sua filha esteve dois anos em cadeira de rodas.

“Somos a prova vida dos danos causados por estas porcarias”, disse a mulher alguns meses atrás.

Sabrina del Valle é advogada formada e hoje é uma das integrantes da associação Madres de Barrios Fumigados de Pergamino, uma associação irmã de outras que operam em várias localidades do “núcleo da soja” da Argentina, e que visam a fazer valer os direitos dos habitantes da região.