-A pandemia está agravando a fome, um problema estrutural na Guatemala...
-A quarentena está afetando principalmente os trabalhadores e as trabalhadoras da economia informal, que na Guatemala representam 60% do total, ou seja, a maioria dos que trabalham. Para eles, essa pandemia está fazendo estragos.
Com a pandemia, percebe-se mais, porém a fome está instalada nos setores populares guatemaltecos há muito tempo. O problema chegou a um ponto tão grave, que em muitas casas as pessoas estão colocando uma bandeira branca, o que significa que lá já não há mais nada para comer.
Teremos que aprender a lidar com a pandemia, mas é impossível se a pessoa estiver com fome. Vale dizer que não foi a pandemia que gerou a fome, mas as políticas aplicadas no país pelos diferentes partidos que assumiram o governo, sempre alinhados aos interesses daqueles que os promoveram, ou seja, daqueles que controlam o capital.
-Nascido da solidariedade, o Stecsa está ajudando essas famílias?
-Claro que sim. Ao redor da fábrica há muitas pessoas que conhecemos há anos, que sobrevivem vendendo principalmente alimentos para os trabalhadores da empresa. Ajudar essas pessoas tem sido nossa prioridade.
Também estamos pensando em empreender uma campanha de longo prazo, porque isso não vai durar apenas algumas semanas ou alguns meses. Teremos que fornecer alimentos de forma duradoura para as famílias mais necessitadas.
E também estamos vendo como ajudar outras pessoas que têm problemas de saúde e estão impossibilitadas de trabalhar. Claro que nossas capacidades são limitadas.
-Imagino que ver essas bandeiras brancas lhe provoque muita angústia, muita indignação.
-Claro. E muito desgosto também. Há, no entanto, muitas pessoas neste país que estão sendo solidárias, tentando compensar a ausência do Estado. Talvez a única coisa positiva em todo esse processo.
-“Só o povo pode salvar o povo”, disse a famosa frase.
-A Guatemala é um país que viveu muitos momentos trágicos, incluindo os 36 anos de guerra interna, conseguindo sair adiante porque o povo sempre encontrou maneiras de se organizar.
Acreditamos que desta vez não será diferente: o povo, não o governo, conseguirá encontrar uma maneira de superar esta situação.