-Qual é a situação perante a pandemia de Covid-19?
-Em Honduras há 4.000 pessoas contagiadas e quase 200 mortes, enquanto a curva do coronavírus sobe dia a dia.
O outro problema é que aqui há um massacre trabalhista, muitos trabalhadores em seguro desemprego ou demitidos; todo o setor de emprego informal impossibilitado de trabalhar. Uma situação trágica.
-E a resposta do governo é mais do mesmo, além de intensificar a repressão...
-Exatamente. Entrará em vigor um novo código penal que criminaliza e judicializa os protestos sociais, mandando muita gente para a cadeia por lutarem por mudanças.
Sobre isso, as centrais dos trabalhadores mandaram uma carta ao Congresso Nacional solicitando uma audiência para pedir a revogação dos artigos que criminalizam a luta e o protesto social, ao mesmo tempo em que reduzem as penas para crimes de corrupção e tráfico de drogas, bem como para crimes sexuais e de violência contra a mulher.
-Quando são as próximas eleições?
-As eleições internas estariam previstas para março de 2021, mas para esse processo ocorrer, será preciso garantir que haja um novo censo eleitoral e uma nova carteira de identidade.
Com a chegada da pandemia tudo ficou suspenso e eles já estão falando em adiar as eleições internas, sendo este o primeiro passo para depois dizerem, certamente, que não haverá condições para as eleições presidenciais de novembro de 2021.
-Em um país que já tinha problemas crônicos de pobreza e fome, onde milhares de jovens emigravam, a conjuntura atual deve ser de situação de emergência...
-Claro. Honduras tem uma população de 8 milhões de pessoas. Segundo o ministro do Trabalho, as suspensões dos contratos de trabalho na indústria, no comércio, nas empresas maquiladoras e na agricultura afetarão cerca de 450 mil trabalhadores e trabalhadoras.
Cerca de 611 empresas recorreram à Lei de Contribuição Solidária. Ou seja, o governo e os empresários das empresas maquiladoras concordaram em garantir uma parcela do salário, cerca de 6 mil lempiras (US$ 250). O Estado contribuirá com US$ 150 e os empresários com 100 dólares. Porém, isso nem chega à metade do valor do salário mínimo.
Estamos falando de uns 120 mil trabalhadores que receberão esse auxílio e cerca de 330 mil que não receberão absolutamente nada, mais os demitidos, que são incontáveis, e ainda os que trabalham no setor informal, que são outros milhares mais.
Além disso, os empregadores estão reduzindo os salários sob a ameaça de demissão, e pagarão o 14º mês em um prazo reduzido, ou simplesmente nem vão pagá-lo. Já os acordos coletivos ou não estão sendo cumpridos ou os empregadores solicitam sua revisão ou suspensão.
Em suma, estamos enfrentando um grave problema de perda de direitos que aprofunda a luta de classes, sendo provável que gere ainda mais repressão.
-Prisões saturadas, fronteiras fechadas, fome. Como isso é administrado?
-Há um estado de sítio com a suspensão dos direitos individuais e coletivos, incluindo a liberdade de expressão. As prisões estão cheias, como você salienta, assim como os hospitais. As políticas de privatização destruíram os setores de saúde e educação.
Os empresários estão aproveitando para pedir novas concessões ou para não pagarem impostos. E os grandes latifundiários estão recebendo terras.
Planejam resolver o problema com mais neoliberalismo. Isso é absurdo e muito perigoso.