-Qual é a situação da pandemia nos frigoríficos da Argentina?
-O maior problema está na Grande Buenos Aires, onde se registra o maior número de pessoas infectadas nos frigoríficos. Quilmes, Pacheco e o frigorífico Frimsa em Escobar são os três com mais trabalhadores com Coronavírus.
De todas as fábricas frigoríficas, apenas em quatro ou cinco a situação foi mais crítica; no restante, a implementação de protocolos sanitários desenvolvidos pelo governo, pela Federação e pelas empresas vem dando bons resultados.
No entanto, o panorama é complicado. Até alguns dias atrás não tínhamos nenhuma pessoa infectada na cidade de Rosário (zona frigorífica por excelência), e nessa semana já há cerca de 80 infectados.
-O que aconteceu com esses trabalhadores?
-Todas as empresas do setor estão pagando o salário integral aos trabalhadores que têm que se retirar por causa da pandemia, ou por fazerem parte do grupo de risco.
-Que medidas preventivas estão sendo implementadas?
-Além daquelas que todo mundo conhece, em Rosário, em um frigorífico da JBS onde antes havia um refeitório, agora são oito refeitórios, para evitar a aglomeração
Tenho que ressaltar que a Federação conta com os serviços de um renomado infectologista que nos assessora e monitora os protocolos, aplicados nos diferentes frigoríficos.
Por outro lado, reitero, os trabalhadores e as trabalhadoras representados pela Federação que estão com o vírus ou fazem parte da população de risco contam com todo o seu salário.
Seria dramático que, além de estarem doentes ou impedidos de trabalhar, não pudessem contar com seu salário.
-No Brasil, estima-se que até 30% dos trabalhadores e trabalhadoras do setor estejam contaminados, sendo a JBS um dos principais focos de disseminação do vírus. Como é a situação na Argentina?
-Aqui temos relatórios diários sobre os infectados.
Todos os sindicatos e nossos delegados percorrem diariamente as fábricas, e as empresas são obrigadas a cumprir rigorosamente os protocolos.
Algumas não estavam fazendo isso e, devido à pressão, passaram a respeitar os protocolos.
-Entendo que na Argentina a JBS mantém um diálogo permanente com os sindicatos, enquanto no Brasil não só não escutam as organizações sindicais, como se recusam a negociar com o próprio Ministério Público do Trabalho.
-Aqui, com o Grupo Minerva –adquirido pela JBS na Argentina em 2017– temos reuniões de coordenação regulares sobre a segurança.
Pelo menos uma vez por semana os sindicatos e a empresa se reúnem. E se houver alguma irregularidade, será observada e corrigida.
- Em alguns frigoríficos do Brasil, os trabalhadores usam a mesma máscara por até cinco dias consecutivos...
-Aqui usamos dupla proteção e cuidamos da vida útil dos equipamentos de proteção. E isso tem muito a ver com os sindicatos que estão constantemente monitorando o cumprimento de todos os protocolos de biossegurança.
O setor da fábrica onde surge algum caso é imediatamente isolado, assim como o trabalhador portador do vírus. Além disso, é feita uma desinfecção geral do local.
Os protocolos estão sendo perfeitamente cumpridos.
-Você destaca o diálogo permanente entre empresas, governo e os sindicatos, algo que não existe no Brasil.
-Sem dúvida. Aqui a população em geral está cumprindo a quarentena. Mesmo que sejam realizadas manifestações, há uma consciência cidadã sobre o assunto.
O governo tem muito a ver com isso, tem levado a pandemia muito a sério, algo que a gente vê que no Brasil não acontece, porque parece que o governo de Jair Bolsonaro está indo na contramão da ciência.
-O que, na sua opinião, faz a diferença entre os setores frigoríficos do Brasil e da Argentina?
-Sem dúvida a presença do Estado, que tem mostrado protagonismo desde o início da pandemia, marcando as diretrizes para o cuidado dos cidadãos e promovendo a presença permanente dos sindicatos nas diferentes fábricas de frigoríficos, onde a principal preocupação é pela saúde dos companheiros e das companheiras; o resto se verá depois.
-E se os sindicatos não tivessem a força que têm, o governo fosse omisso e as empresas fizessem o que quisessem, qual seria a situação na Argentina?
-Estaríamos quase na mesma condição que o Brasil, não tenho dúvidas.
Repito, o que acontece na Argentina é que o Estado não ignora a pandemia e vem tomando as medidas que considera necessárias para proteger o povo, mesmo com seus acertos e erros, mas sempre está presente.
Por outro lado, nossa Federação está permanentemente trabalhando com o governo central, com os ministérios e com as respectivas câmaras empresariais.
Os sindicatos, por sua vez, estão em constante negociação com os governos municipais, com as autoridades sanitárias, e monitorando todas as fábricas.
Aqui não há assembleias fora dos frigoríficos, como tenho visto no Brasil, para informar os trabalhadores e as trabalhadoras. Os sindicatos e nossos delegados atuam com total liberdade dentro das unidades.
Está tudo coordenado de forma tripartite e com foco na saúde das pessoas, como a nossa maior prioridade.