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Por que a Atilra incomoda tanto?

Após uma denúncia anônima, a Polícia Federal invadiu, em 28 de fevereiro, a sede da Associação dos Trabalhadores da Indústria Láctea da República Argentina (Atilra), em Sunchales e outras 11 dependências sindicais. “Haviam nos dito descaradamente que tinham os elementos necessários para desestabilizar a organização sindical e particularmente o secretário geral”, informou Héctor Ponce, em seu discurso, cujo resumo apresentamos a seguir.

“No momento certo, por sabermos claramente que era uma denúncia concreta, tínhamos manifestado que este tipo de situação era plausível de acontecer, porque estamos agindo em defesa dos direitos dos trabalhadores e das trabalhadoras.

Por outro lado, a Atilra tem uma concepção filosófica que, aos ouvidos daqueles que não são partidários da mesma, ganha uma conotação negativa.

Há setores reacionários da sociedade que se incomodam com o fato de os trabalhadores/as receberem salários dignos ou que pensem por si mesmos e que, além de fazer parte de uma planilha, também queiram integrar um projeto que os contenha.

E há gente que não está de acordo que a organização extrapole sua função de negociar salários e condições de trabalho. Não querem que o sindicato cumpra o papel para o qual foi criado, de se envolver também em questões de saúde, educação e cultura, não só pensando em seus trabalhadores, mas também em toda a sociedade.

Atilra na sociedade
Extrapolando as quatro paredes da indústria

Mas, como essa função do sindicato poderia incomodar? Por que é tão desagradável o fato de podermos oferecer alternativas que incidam positivamente em nossas comunidades? Estas são algumas das perguntas que nos fazemos rotineiramente.

Também incomoda que, neste momento, estejamos importando uma TomoTherapy, que revolucionará o tratamento em radioterapia, tão importante para pacientes oncológicos. Na América Latina só há um destes equipamentos. Agora haverá dois, graças a nós da Atilra.

Se estas pessoas realmente nos conhecessem, saberiam que as conquistas dos demais nos deixam felizes. Pois é em função disso que nos alegramos também com o fato de os produtores irem bem. Porque conhecemos o sacrifício que uma gestão assim implica. Entretanto, os setores industriais tentam permanentemente nos confrontar com os nossos companheiros produtores de leite.

Ameaças que vêm de longa data
“Continuaremos na luta”

Lembramos muito bem quando, em determinado momento, o setor industrial disse contar com as ferramentas necessárias para desestabilizar o nosso sindicato. Levamos isto muito a sério, tanto naquela época, como agora.

Há muitos jovens que talvez não conheçam parte da história desta organização sindical, mas eu sim. E me lembro que, em 1977, o negro Arce, apelido para o secretário geral da Atilra Abelardo, foi preso durante cinco anos por causa de um roubo inventado. Em 1982, foi solto e limparam o seu nome, porém teve que passar anos preso.

Com isto, quero dizer que sei muito bem do perigo que corremos, porém, quando um de nós assume a responsabilidade de defender os interesses dos trabalhadores/as, não interessa o que possa nos acontecer, porque é um compromisso que todos os dias formalizamos junto a nossos filiados.

Se essas pessoas acham que me prendendo, conseguirão que a Atilra deixe de lado o seu objetivo como organização sindical, estão totalmente equivocados.

Temos um sindicato que não depende de seu secretário geral, mas de suas bases, de cada um/a dos que a integram, da comissão diretora de cada uma de suas seccionais, de todos aqueles que garantem a sua existência e lutas, dia a dia.  

Não vamos retroceder em função dos perigos que nos afrontam. Se é certo que são uma realidade, decidimos aceitar esses desafios, suportando estoicamente as ameaças, porque sentimos orgulho de representar os trabalhadores/as do setor de laticínios. Vamos fazer todo o possível para estar à altura das circunstâncias.

Com isto, me refiro não só ao que tem a ver com a formação intelectual dos dirigentes, mas também com a energia para suportar todos os combates que nos toquem, inclusive o da falta de liberdade.

Quero que se sintam tranquilos, porque este Conselho Diretivo Nacional velará sempre pelo compromisso assumido. Enfrentaremos etapas muito complicadas, mas a Atilra já demonstrou para os diversos atores deste setor, sejam eles empresários, produtores ou mesmo o governo, que somos uma organização que veste a camisa da produção de leite. Somos, portanto, capazes de suportar qualquer golpe duro, como quando enfrentamos a SanCor e outras empresas do setor.

E assim atuamos em todos os sentidos.

Ninguém nos deu nada de graça
Vamos continuar lutando!

Queremos ser racionais, considerar que dentro da atividade há uma enormidade de interesses que não são unicamente os dos trabalhadores.

Queremos que a atividade cresça para depois podermos discutir o que corresponde por direito aos operários.

Por essa razão, os trabalhadores/as da indústria do leite têm os salários que têm. E se, por um lado, sabemos que foi às custas de mérito próprio, uma coisa é ganharem e outra bem diferente é reconhecerem, o que só se consegue por meio de uma organização sindical.

É o sindicato a ferramenta dos operários, dos homens e das mulheres, para reconhecerem o valor de seu trabalho.

Nenhum empresário dá aos trabalhadores melhores salários ou condições de trabalho porque sim. Tudo conquistado até agora foi fruto de uma longa e constante luta sindical por conquistas daquilo que consideram direito do trabalhador dentro da estrutura desta atividade.

Vamos continuar trabalhando, aconteça o que acontecer, doe a quem doer”.