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Nestlé admite que a maioria dos produtos que vende são insalubres

A confissão involuntária

Em um documento interno, a Nestlé admite que 60 por cento dos produtos que vende não são saudáveis. Em paralelo, uma pesquisa de órgão público de controle do Brasil indica que, além de ultraprocessados, esses “alimentos” contêm agrotóxicos como o glifosato.
Foto: Gerardo Iglesias

Dos cereais matinais aos chocolates, passando pelos doces e sorvetes, os produtos comercializados pela Nestlé não atendem às condições mínimas para serem considerados saudáveis “e nunca o serão, por mais que sejam renovados”.

A constatação é de uma comunicação enviada no início do ano às autoridades da empresa na Suíça com base na análise de pouco mais da metade dos produtos vendidos pela transnacional, vazada nesta segunda-feira, 31, pelo jornal britânico Financial Times.

Café, comida para crianças, comida para animais de estimação e produtos de nutrição médica não estão incluídos nessa avaliação.

Apenas 37,5 por cento dos artigos examinados atendem a uma classificação de 3,5, o mínimo para serem considerados saudáveis de acordo com um sistema de classificação australiano administrado por organizações de controle em todo o mundo.

O pico de insalubridade está nos produtos de confeitaria, nos sorvetes (99 por cento) e bebidas (96 por cento), seguidos por águas (80 por cento) e laticínios (60 por cento).

“Isso mostra que a direção da empresa já está ciente de que fabricam produtos não saudáveis. Não se trata de não atingir excelentes níveis de saúde, mas sim de serem produtos nocivos para a saúde”, disse o nutricionista Juan Revenga ao jornal espanhol El País.

“Chama a atenção a péssima nota das bebidas e dos produtos de confeitaria e sorvetes, que são os produtos que mais fazem a marca ser conhecida. Entretanto, também é surpreendente que 18 por cento das águas sejam também nocivas para a saúde. "

Para piorar, com pesticidas

Nestes mesmos dias, no Brasil, um estudo do Instituto de Defesa do Consumidor (IDEC) indica que alguns dos produtos estrela que a Nestlé comercializa e promove como saudáveis contêm resíduos de diversos agrotóxicos, inclusive o glifosato.

Isso inclui biscoitos e cereais das marcas Negresco e Bono.

Em 2016, testes conduzidos para a FDA (agência de controle de alimentos e medicamentos dos Estados Unidos) detectaram a presença de altos níveis de glifosato nos biscoitos Oreo, da Mondelez, os Corn Flakes da Kellog's, as Lays da Pepsico e barrinhas de cereais de várias marcas.

Publicidade enganosa

A novidade do documento vazado pelo Financial Times é que seus autores trabalham para uma empresa do setor, e não para qualquer empresa, já que a Nestlé é a empresa líder mundial no seu ramo.

Aliás, as denúncias sobre a insalubridade desses produtos são bem antigas.
Em 2013, a Fundação Britânica do Coração (BHF, na sua sigla em inglês) encomendou um relatório, o qual demonstrou que a maioria dos fabricantes de alimentos para crianças, como a Nestlé, a Kellog's e outros, difundem uma imagem saudável de produtos, mesmo cientes de não serem saudáveis, entre outros motivos pelo alto teor de açúcar.

“Eles se aproveitam das brechas legais e espalham publicidade enganosa, principalmente pela Internet. Enquanto as crianças brincam com seu computador, são emitidas mensagens subliminares para consumirem comida-lixo, causando obesidade e outras doenças coronárias”, disse o então diretor da Fundação, Peter Hollins.