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Na Grã-Bretanha, a ofensiva de Bolsonaro e de empresários contra a NR36 é destaque

“A saúde dos trabalhadores está em perigo”

O jornal inglês The Guardian destacou a situação dos trabalhadores dos frigoríficos brasileiros, denunciando que os industriais do setor e o governo brasileiro pretendem privar os trabalhadores da proteção garantida pela Norma Regulamentadora 36 (NR36), em plena pandemia.
Imagem: Allan McDonald | Rel UITA

“A saúde de milhares de trabalhadores das fábricas processadoras de carne no Brasil está em risco, devido a um plano apoiado pela indústria para reduzir as pausas de descanso dadas aos trabalhadores”, informa a matéria, publicada na segunda-feira, 12 de abril.

O plano, lembra o The Guardian, consiste em limitar as pausas (térmicas) de 20 minutos a cada 1h40min, direito que hoje os trabalhadores dos frigoríficos usufruem graças a uma normativa pela qual lutaram durante muitos anos.

“É inconcebível que, durante a pior crise de saúde da História, quando os trabalhadores dos frigoríficos foram qualificados como essenciais e continuam trabalhando com normalidade, para garantir o abastecimento de alimentos à população, eliminem qualquer direito relacionado com a sua saúde e sua segurança no trabalho”, declarou para o jornal Lincoln Cordeiro, procurador do Ministério Público do Trabalho (MPT), entidade independente do governo.

As alterações propostas “significariam que os descansos só seriam concedidos” para apenas 5 por cento dos trabalhadores das fábricas.

“Há estudos que mostram que o trabalho contínuo em um ambiente frio deteriora os músculos e o funcionamento neuronal. A exposição ao ar frio também causa inflamações e uma piora do sistema respiratório”, acrescentou o procurador.

O jornal também cita Célio Elias, dirigente da Federação Democrática dos Trabalhadores da Indústria da Alimentação de Santa Catarina, por denunciar as pressões dos empresários sobre o governo e o Congresso, porque querem eliminar ou reduzir drasticamente o alcance da NR36, pois consideram a norma regulamentadora responsável pelos “prejuízos econômicos do setor”.

“Se as medidas de proteção dos trabalhadores forem enfraquecidas, sem dúvida alguma, veremos uma grande quantidade de pessoas com lesões ou mutiladas”, disse Elias.

Em 2019, apesar da vigência da NR36, limitando a acidentalidade nos frigoríficos brasileiros, houve nessas fábricas cerca de 23 mil acidentes de trabalho, uma média de 62 acidentes por dia. Sem a norma, isso teria sido muito pior.

O jornal britânico destaca também que esta revisão ocorre em um momento onde “surgem dúvidas na Europa sobre a sustentabilidade das exportações de carne brasileira”, que no ano passado bateram o recorde de 17 bilhões de dólares.

Os países europeus questionam o governo de Jair Bolsonaro pelo desmatamento selvagem da Amazônia, para beneficiar, entre outras atividades, a pecuária ilegal.

A administração do presidente da extrema-direita é particularmente sensível à defesa dos interesses dos empresários.