Sérgio Rojas foi baleado com 15 tiros, em sua casa, no dia 18 de março. Já tinha sofrido um atentado em 2012. Poucos dias antes de ser assassinado, sua família também tinha sido ameaçada de morte por desconhecidos.
Até 2015, Sérgio Rojas presidiu a Associação de Desenvolvimento Integral (ADI) de Salitre, a única proprietária legal das terras da região, lutando pela recuperação das terras que estavam nas mãos dos fazendeiros.
A Lei Indígena de 1977, deu aos povos indígenas a posse total dos 11.700 hectares de Salitre, mas os fazendeiros, que naquele então tinham em seu poder 30 por cento das terras, se negaram a entregá-las.
O Estado, que devia desalojar os latifundiários e entregar as terras usurpadas às lideranças das comunidades indígenas, nunca fez nada.
Os fazendeiros recorreram a tudo que é tipo de artimanhas para permanecerem no lugar, lembra Xinia Zúñiga, responsável pelo relatório “O território de Salitre: direitos, memória e violência 2010 – 2017”.
Inventaram até possuírem ascendência indígena, chantagearam os seus peões – para que reivindicassem as terras em seu nome, e obviamente, usaram de violência usando seus lacaios.
O governo fingiu que não via e a justiça também não fez o que devia para garantir que os direitos indígenas fossem respeitados.
“Em nossa pesquisa vimos deputados, ministros, vice-ministros e demais autoridades desfilando por Salitre sem que nada acontecesse. Todos conhecem o conflito e sabem o que está acontecendo, mesmo assim não fizeram nada. Portanto, todos têm alguma parcela de culpa no assassinato” de Sérgio Rojas, disse Xinia Zúñiga para o canal Teletica.
A Frente Nacional dos Povos Indígenas (Frenapi) responsabilizou o governo de Carlos Alvarado por este crime.
A violência na região se acentuou a partir de um dia de agosto de 2010, quando um grupo de 30 indígenas – Sérgio Rojas estava entre eles – foi expulso do Congresso após realizarem um protesto pacífico visando a discussão de um projeto de lei que desse autonomia aos seus territórios, engavetado pelos parlamentares desde o início dos anos 2000.
A Corte Interamericana de Direitos Humanos determinou medidas cautelares em favor da comunidade Bribri de Salitre, porém de pouco serviram.
“Esses protocolos foram definidos, mas jamais aplicados. Nunca foram tomadas medidas de fato, portanto os indígenas estão desprotegidos e desinformados, além de não contarem com a proteção da polícia para estes acontecimentos que presenciamos e que já foram denunciados, como quando queimam suas casas e plantações, ou quando os ameaçam e intimidam”, afirmou Zúñiga.
Os indígenas, então, perceberam que deviam passar a uma nova etapa.
As gestões com o poder político em San José não tinham dado resultado algum e decidiram finalmente ocupar as terras, sem abandonar os procedimentos legais.
Por um lado, a ideia deu certo, porque recuperaram uns 1.200 hectares, por outro isso lhes custou vidas, como a de Rojas.
“A meu ver a morte de Sérgio Rojas é bem dolorosa e terrível, mas temos que vê-la em seu contexto. Assim como Berta Cáceres, Rojas deve ser considerado um mártir indígena, entretanto tendo sido morto com 15 balas, evidencia-se enorme crueldade. Isto é escalar ao máximo o nível da violência, além de ser um alerta de que o conflito se intensificará ainda mais”, disse Zúñiga.
“Como sociedade, não podemos permitir ser parte da globalização e nem da violência, já presente em tantos países, como na Colômbia, no México ou na Guatemala. Violência esta que também bate em nossas portas”.