- Qual é o principal desafio dentro do meio sindical para uma dirigente travesti?
-Um dos grandes desafios do movimento LGBTI é resgatar a consciência de classe, a consciência sobre o conceito de democracia que muitas vezes difere daquele utilizado por centenas de políticos corruptos, que pululam neste país.
Há inclusive um candidato à presidência da república com um discurso fortemente antidemocrático, anti-trabalhador e homofóbico.
As pessoas LGBTI se uniram como consequência da discriminação e dos preconceitos que sofremos. Agora é hora de nos unirmos também porque formamos parte da classe operária.
-Qual é o papel do sindicato nesta tarefa?
-Seria importante que os líderes sindicais, que se dispõem a formar uma organização ou uma direção sindical, busquem dentro de suas bases, nas fábricas, pessoas da comunidade LGBTI para que se unam ao sindicato.
Devem gerar consciência sobre o preconceito instalado contra a nossa comunidade, para então ajudarem o restante dos trabalhadores e das trabalhadoras a se conscientizarem da exclusão que sofremos no mercado de trabalho.
É fundamental que os sindicatos se envolvam na veiculação deste assunto, informando e abrindo espaços para a inclusão de trabalhadores LGBTI, mas ainda falta muito para isso.
Já avançamos em alguns pontos, e agora já vemos mais trabalhadores e trabalhadoras LGBTI, porém são pessoas cisgênero, ou seja, gays, lésbicas, bissexuais, mas não travestis nem transgêneros.
Nós, os travestis, ainda ocupamos o pódio da escória social. E isso tem que ver diretamente com a dificuldade de inserção no mundo do trabalho.
-As condições para a sua comunidade ficaram mais difíceis depois da destituição da Dilma Rousseff?
-Com certeza. Já se nota a implementação de uma agenda neoliberal mais radical e que prevê a flexibilização das leis de trabalho, graças a esta reforma. E se a classe operária já se viu muito prejudicada, imagine então a comunidade LGBTI.
-Como em outros tantos lugares, há também aqui a expressão de oposição dos grupos religiosos?
-Eu não generalizaria dizendo que são todas as igrejas, mas sim existem grupos ultraconservadores que são contrários a conquistarmos direitos. Porém, também é certo dizer que a raiz de muitos dos preconceitos que sofremos é religiosa.
Essa é outra das tantas barreiras que deveremos cruzar.
Não é fácil, claro, porque atrasa os nossos objetivos. Mas, acredito que a luta vale a pena!
Em Limeira, Gerardo Iglesias