Na América Latina “matam o povo
mas não matam a ideia”.
(Rubén Blades)
“O perigo de estar vivos”
(Fito Paez)
Marielle era também vereadora pelo Partido Socialismo e Liberdade – PSOL, e nas últimas semanas havia feito inúmeras denúncias na Câmara de Vereadores contra as ações militares nas favelas, após Michel Temer colocar o Exército nas ruas visando a segurança do estado. No dia 16 de março, dois dias depois do seu assassinato, esta medida faria um mês em vigência.
Se por um lado não existem provas de um “crime político” (difícil conseguir encontrá-las: os assassinos atuaram como profissionais), não há no Brasil pessoa honesta que não dirija seu olhar às organizações paramilitares que controlam a multidão de favelas cariocas, ou aos seus cúmplices dentro da Policia Militar do Rio.
As balas utilizadas para matar Marielle e Anderson são de nove milímetros, de uso exclusivo da PM e, além disso, não houve nenhuma tentativa de roubo.
Marielle Franco tinha denunciado nas últimas semanas a forma como o Exército, comandado pelo general Walter Souza Braga Netto, ocupou as favelas, e como os habitantes das mesmas, em particular os jovens, estavam sendo fichados.
Nada novo sob o sol, por certo, mas a militarização, dizia esta jovem (38 anos), militante social e política, conduz diretamente à criminalização, e a criminalização à execução.
Mais grave é quando o próprio general Braga Netto, apoiado por uma robusta maioria parlamentar brasileira, liderada pelos integrantes da “bancada da bala”, exige e obtém para os militares o direito a serem julgados por Corte Militar, e não pela Justiça comum, em caso de assassinato, incentivando a impunidade durante sua atuação nesta operação de segurança.
Marielle já tinha vivido em carne própria uma intervenção militar, em 2014, na comunidade onde ela nasceu, a Favela da Maré. As Forças Armadas tinham na mira os jovens e os militantes sociais das comunidades, deixando os narcotraficantes “em paz”.
No dia 19 de fevereiro passado, Marielle tinha afirmado que a intervenção decretada pelo presidente “ameaçava a democracia”. Dias depois, com a operação já em visível andamento, ela denunciou os abusos diários cometidos pelas tropas do Exército.
O general Braga Netto e o presidente Temer, obviamente, lamentaram a morte de Marielle Franco, prometendo que irão punir os culpados. Ninguém acredita nisso.
As organizações humanitárias, como a Anistia Internacional, a Human Rights Watch e as agências das Nações Unidas, não acreditam nessas promessas, tanto é assim que pediram uma investigação imediata e independente sobre o assassinato de Marielle. Solicitaram que a mesma fosse feita pela Polícia Federal, e não pela Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro.
No dia 15 de março, milhares de pessoas foram se despedir de Marielle, não só acompanhando o seu enterro, como também em um ato em sua homenagem, ocorrido em frente à Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro.
“Executam quem levanta a voz”, “Esse tiro foi para o povo, mas a luta vive”, “Vidas negras, Marielle presente”, era o que diziam alguns dos cartazes.
“Por sua atuação na Câmara Municipal e por seu trabalho de base junto às comunidades oprimidas e humilhadas das favelas, pelas contundentes denúncias contra a violência policial seletiva e desproporcional, e por seu apoio aos movimentos sociais, Marielle Franco tinha um perfil perfeito para ser alvo da fúria das milícias e dos integrantes da chamada “banda podre da PM”, escreveu do Rio de Janeiro, o jornalista Eric Nepomuceno.
Uma definição precisa e alinhada aos pensamentos da UITA, organização que reitera hoje e sempre o seu compromisso com as causas que Marielle defendia.