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Soja transgênica viola direitos humanos
Em San José de Costa Rica,
Paraguai
DH
Com David Cardozo
Soja transgênica
viola direitos humanos
Depois do golpe de estado parlamentar,
consolida-se o poder fático das transnacionais
20140812 cardozo-610
Foto: Giorgio Trucchi
A expansão acelerada da monocultura de soja transgênica no Paraguai deixou atrás de si um rastro de destruição e de desolação, colocando seriamente em risco não só a soberania alimentar do país, como também a vida de milhares de famílias camponesas e povos indígenas, expulsos de suas terras tradicionais, e com seus direitos históricos e ancestrais violados.
O Paraguai ocupa o 6° lugar em produção de soja, sendo o 4° maior exportador do mundo.
 
De acordo com dados do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA), a colheita de soja 2012-2013 marcou um recorde em produção – mais de 9 milhões de toneladas – em uma área de 3,2 milhões de hectares.
 
Isto significa que a superfície cultivada com soja transgênica aumentou 109 %, se pensarmos nos últimos dez anos. E 460 % se pensarmos nos últimos 20 anos. Dessa soja transgênica, 95% estão patenteadas pela Monsanto e comercializadas principalmente pelas empresas ADM, Cargill, LDC e Bunge.
  
Concentração da terra
2 % dos proprietários acumulam
80 % das terras
 
A expansão acelerada do cultivo de soja transgênica, que abrange atualmente mais de 70 % da terra cultivada, em um país onde 2 % dos proprietários acumulam 80 % das terras, levou ao deslocamento da população camponesa e dos povos indígenas, a desaparição de matas e o crescimento exponencial do uso indiscriminado de agrotóxicos.
 
O IICA informa que 87 % da superfície total cultivada com soja estão nas mãos dos grandes e médios produtores, enquanto que a população rural e a agricultura camponesa vão sendo reduzidas mais e mais a cada dia, afetando gravemente a soberania alimentar do país.
  
Monoculturas e a perda de diversidade agrícola
Mais contaminação e menos florestas
 
Quase um terço do território da região oriental do Paraguai cultiva soja transgênica, e a Monsanto prevê expandir suas culturas até a região ocidental (Chaco), avançando sobre territórios reservados para a reforma agrária. 
 
Além disso, o último relatório da Alianza Biodiversidad sobre os impactos da soja transgênica no Paraguai, estima que entre 1991 e 2009 o país perdeu mais de 3,2 milhões de hectares de matas nativas, ou seja, 15,34% da superfície total.
 
Também informa que, durante a safra de 2007-2008, nas culturas de soja, foram usados mais de 21 milhões de litros e mais de 1,9 milhão de quilogramas de agrotóxicos. Da quantidade total, foram usados 5,3 milhões de litros do herbicida Glifosato, 6,6 milhões de litros do herbicida Paraquat, 3,2 milhões de litros do inseticida e acaricida Endosulfan, e 2 milhões de litros do inseticida piretróide Cipermetrina e do inseticida sistêmico Acefato, entre outros.
 
“Desde a sua entrada ilegal na década de 90, a soja transgênica, juntamente com o modelo agroexportador, vem causando gravíssimos impactos sociais e ambientais, principalmente nas comunidades mais vulneráveis que são as dos camponeses e as dos povos indígenas”, disse para A Rel, David Cardozo, gerente do Programa de Diversidade Biológica e Cultura da Ong Sobrevivencia Amigos de la Tierra Paraguay .
 
Cardozo destacou a existência de abundante evidência denunciando os graves efeitos nocivos para a saúde, em decorrência do uso indiscriminado de agrotóxicos, principalmente o Glifosato, princípio ativo do herbicida Roundup, produzido pela Monsanto.
 
“Já foram detectados dezenas de casos de abortos espontâneos (interrupção involuntária da gravidez), de malformações congênitas, de transtornos gastrointestinais, bem como o aumento do surgimento de câncer.
 
Temos também os casos de Silvino Talavera, de 11 anos, e das irmãs Adelaida e Adela Álvarez Cabrera, de 3 anos e 6 meses respectivamente, que faleceram tragicamente após um derrame de herbicidas por aviões”, lembrou Cardozo.   
 
Criminalização dos protestos
e das manifestações populares
E violação dos Direitos Humanos
 
O massacre ocorrido em Curuguaty durante o despejo das terras estatais de Marina Cué, onde perderam a vida 11 camponeses e 6 policiais, não só serviu aos setores mais retrógrados do país, em conluio com o grande capital agroexportador transnacional, mas também para dar não só um golpe de estado parlamentar contra o presidente constitucional Fernando Lugo, como também para eliminar os avanços conquistados até aquele momento.
 
“Durante o governo de fato de Federico Franco, começaram a ser liberadas, de forma ilegal, as novas culturas de soja, de algodão e de milho transgênico, violando a normativa nacional que prevê a elaboração de estudos de impacto ambiental e a experimentação controlada por um lapso de dois anos. Isso continua com o novo governo de Horacio Cartes”, explicou um dos diretores da Ong Sobrevivencia Amigos de la Tierra Paraguay.
 
Também foi feito um alerta sobre uma preocupante e crescente criminalização e judicialização dos protestos e das manifestações populares contra a expansão da cultura de soja e contra o modelo agroexportador em geral.
 
Durante a última década, registrou-se um aumento exponencial nos despejos e nos deslocamentos violentos, bem como nas prisões e assassinatos de quem lutar pelo acesso à terra e contra a expansão deste modelo depredador.
 
“É um modelo violador dos direitos humanos, que usa o assédio, a perseguição e a repressão para restringir as liberdades e por continuar concentrando terras e territórios em poucas mãos”, concluiu Cardozo. 
 

Rel-UITA
13 de agosto de 2014
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