- Qual é a situação dos trabalhadores e das trabalhadoras rurais em Minas Gerais?
- No estado há uns 500 mil assalariados e assalariadas, dos quais mais de dois terços estão na informalidade. Os trabalhadores com carteira assinada são constantemente desrespeitados em seus direitos trabalhistas e sindicais, gerando no trabalhador uma situação de vulnerabilidade constante.
Minas Gerais é um dos estados que encabeçam a lista suja do trabalho escravo no Brasil, sendo que 10 por cento do trabalho escravo deste estado estão concentrados no setor do café.
Entre 40 e 60 por cento dos trabalhadores e trabalhadoras do café não contam com proteção social nem trabalhista, também estando à margem dos sistemas de proteção em saúde e segurança, ainda expostos ao envenenamento por agrotóxico de forma intensa e crescente.
Minas Gerais conta também com uma importante bacia leiteira, onde os trabalhadores e trabalhadoras são obrigados a cumprir jornadas de 14 a 14 horas.
Como o Ministério do Trabalho está completamente desestruturado, não consegue fiscalizar estas questões. Além disso, o movimento sindical não está conseguindo encontrar uma firme resposta para as exigências e necessidades dos trabalhadores e trabalhadoras.
-No estado os sindicatos estão muito enfraquecidos.
- Com certeza. Aliás, o nível de filiação é muito baixo, se considerarmos a quantidade de assalariados e assalariadas rurais. Porém, esse enfraquecimento pode ser explicado devido à perseguição que sofreram no nosso estado. Nossa região está formada por pequenos municípios e o município onde moro conta com 16 mil habitantes, 268 deles são trabalhadores rurais.
Nestes lugares todos se conhecem. O patrão sabe onde o trabalhador mora, e principalmente se ele frequenta ou não um sindicato. Este é um fator que incide diretamente na baixa adesão à organização sindical.
O nosso sindicalismo é de quadros e não de massas, porque há poucos trabalhadores contratados versus um grande exército pessoas procurando emprego. Isto faz com que o empregador tenha muita oferta de mão-de-obra, podendo demitir e contratar ao seu bel-prazer.
- O que acontece com as certificações?
-É uma de nossas maiores preocupações, pois chegam do exterior e muitas vezes certificam um produto procedente de fazendas que se utilizam de trabalho escravo.
Até 2015, não tínhamos ideia sobre as certificadoras. Depois de denunciarmos o trabalho escravo em 12 estabelecimentos produtores de café, e de se descobrir que grande parte desse café estava certificado e comercializado pela Nestlé, começamos então a investigar esse assunto.
Um dos estabelecimentos que praticava trabalho escravo tinha sido inclusive premiado pela qualidade do seu café.
Ou seja, constatamos que em Minas Gerais as certificadoras protegem os produtores e não os trabalhadores, como deveria ser.
Os empregadores enganam as certificadoras e as certificadoras são subornadas para se deixarem enganar, tudo isto em detrimento dos trabalhadores e das trabalhadoras.
Que os sistemas de certificação funcionem, é uma condição que deveria formar parte da agenda dos sindicatos.
-O que você acha de a UITA ser sua parceira para juntos denunciarmos as certificadoras de forma mais intensa?
-Precisamos sem dúvidas internacionalizar esta questão, principalmente com relação ao cultivo do café, que é um dos produtos agrícolas mais exportados pelo Brasil.
Nós já enfrentamos juntos a Nestlé, a Starbucks, a Illy, entre outras transnacionais, porém precisamos de maior apoio.
Contamos com a UITA, para isso.