-Acabamos de finalizar um seminário nacional sobre violência no campo. Os dados são muito preocupantes. Temos estados como o Pará e o Amazonas, onde a situação é muito delicada. Concluímos que devemos relançar a Campanha Internacional Contra a Violência no Campo, como a que fizemos há 15 anos.
-Acredito ser fundamental uma campanha como essa.
Os latifundiários, aqueles que conseguiram terras ilegalmente, sentem que agora têm plenos poderes e estão autorizados a matar.
É uma situação muito séria, porque a justiça está cada vez mais criminalizando as organizações populares, as lideranças de esquerda, os defensores dos Direitos Humanos e os ambientalistas.
Estamos testemunhando uma deterioração gradual das instituições democráticas e da própria democracia na medida em que os espaços de participação estão sendo reduzidos.
Estamos preocupados com o aumento da violência de vários tipos: assassinatos, discriminação, feminicídios, ataques à comunidade LGBT e aos negros, trabalho escravo, violações dos direitos sindicais.
Por isso, é imprescindível construir parcerias com outras organizações, especialmente internacionais, para que conheçam o que realmente estamos vivendo no Brasil e a UITA tem um papel central a desempenhar nesse sentido.
É preciso dar visibilidade a isto para tentar conter a espiral de violência que não parou de crescer amparada em uma impunidade cada vez mais agressiva. A vida dos defensores dos direitos humanos e/ou dos bens comuns está em risco permanente.
No meio rural brasileiro há também uma cultura de escravidão que torna a violência nesse contexto diferente daquela exercida nas cidades, nas favelas, com o agravante de que nas favelas muitas vezes a morte é causada pela própria polícia.
-A criminalização da luta popular se une à impunidade que é praticamente absoluta...
-Sim, e a justiça sempre encontra argumentos para dizer que os atos de violência contra os camponeses são sempre devido a outra coisa: acidentes, confrontos entre ocupantes de terras, conflitos etc.
São muito raros os casos em que algum latifundiário ou mandante de assassinatos seja processado.
Em geral, os afetados não têm recursos para contratar advogados para representá-los.
Eles acabam como esses companheiros que vieram dar seu testemunho no seminário, vítimas em maior ou menor grau dos diferentes tipos de violência, que vão desde ameaças de morte, destruição ou incêndio de sua propriedade ou produção, até o assédio, perseguição e despejo forçado. Finalmente, em última instância, o assassinato.
Em Brasília, Gerardo Iglesias