Sobre o processamento de militares, a carta do Comando Barneix ameaçava com que “por cada suicídio de agora em diante, mataremos três escolhidos aleatoriamente”. Os 13 nomes listados eram o do ministro de Defesa Jorge Menéndez, o do procurador Jorge Díaz, o da ex procuradora Mirtha Guianze, o da ex vice-chanceler Belela Herrera, os dos advogados Oscar López Goldaracena, Federico Álvarez Petraglia, Pablo Chargoña, Juan Errandonea, Juan Fagúndez, Hebe Martínez Burlé, o do jurista francês Louis Joinet, o da investigadora italiana Francesca Lessa e o de Jair Krischke.
“Um ano se passou e lamentavelmente o governo uruguaio ainda não fez nada para apurar as ameaças que recebemos. A principal interrogante é essa, por que é que nada foi feito. É a pergunta que, como um dos ameaçados, me faço”, disse Jair.
Para o ativista, é surpreendente o fato de o governo uruguaio atual, com um de seus integrantes mais notórios entre os ameaçados de morte, o ministro de Defesa Jorge Menéndez, não ter sequer participado da audiência ocorrida em maio do ano passado em Buenos Aires, na sede da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), para investigar este caso.
“Não tenho explicação para este silêncio ensurdecedor do governo uruguaio que no final das contas termina protegendo esses criminosos e promovendo sua impunidade”, declarou.
Não só a ameaça de morte, mas também a atitude passiva das autoridades perante o fato, e a notória carência de investigações sérias a respeito, acabaram por interferir na pesquisa acadêmica da italiana Francesca Lessa, pela Universidade de Oxford no Uruguai.
Lessa teve que abandonar o país depois de a Universidade de Oxford e a Embaixada italiana considerarem que o Uruguai não oferece as devidas garantias para ela continuar com o seu trabalho.
“Considerando já ter se passado um ano sem nenhum tipo de atitude concreta do governo, nós os ameaçados decidimos escrever uma carta aberta ao presidente Vázquez, onde enumeramos uma série de casos antecessores ao nosso. Na carta, também exigimos uma postura de combate à impunidade do Comando Barneix”, contou Jair.
Entre outras coisas, a carta aberta enfatiza que “infelizmente esta ameaça não é um fato isolado, mas já faz parte de um padrão alarmante de ocorrências no Uruguai, nos últimos anos, contra jornalistas, legisladores, defensores dos direitos humanos, e antropólogos forenses”.
Jair lembrou também que quando teve que viajar para o Uruguai em julho de 2017 para a apresentação de um livro, solicitou proteção da Chancelaria e não obteve mais que silêncio, sendo que a militância de Krischke está intimamente vinculada com o Uruguai.
Durante a ditadura, salvou milhares de compatriotas das garras da Operação Condor. O caso de Lilián Celiberti e de Universindo Rodríguez, dois uruguaios sequestrados em Porto Alegre, em 1977, junto com os dois filhos da Lilián, foi o caso mais emblemático.
É por isso que Jair não dissimula sua incredulidade e decepção com a postura do governo de Vázquez, e agradece à Rel-UITA pelo engajamento constante da organização.
“O primeiro apoio que recebemos foi o da Rel-UITA. Aliás, foi ela a primeira em alertar o mundo sobre o assunto e em divulgar, denunciar e prestar solidariedade, especialmente comigo”, destacou.