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Teleconferência do Setor de Carnes da UITA
Frigoríficos e pandemia

O distanciamento dos oprimidos

Na última quarta-feira, 1º de julho, foi realizada uma teleconferência do Setor de Carnes da UITA. Artur Bueno de Camargo, presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores da Alimentação e Afins (CNTA Afins), foi um dos 40 dirigentes que participaram. Em seu discurso, Artur destaca o papel da Regional e a articulação com a Contac na luta por melhorar as condições de trabalho e saúde no setor que se tornou uma das principais fontes de contágio por Covid-19. A seguir, transcrevemos o essencial de sua participação.
Artur Bueno de Camargo | Foto: Gerardo Iglesias

«O governo do Brasil tem se aproveitado da pandemia para eliminar os direitos conquistados pelos trabalhadores nessas últimas décadas.

Jair Bolsonaro não demonstra nenhum compromisso ou empatia com a classe trabalhadora e não se importa com a sociedade em geral. Ele governa ditatorialmente, apresentando medidas provisórias e portarias que eliminam diariamente os direitos trabalhistas.

Além disso, há o fato de o Congresso Nacional estar trabalhando de forma virtual, fazendo com que todo projeto enviado para estudo não passe mais pelas respectivas comissões de análise, indo diretamente ao plenário, atualmente composto, em sua maioria, por aliados de Bolsonaro.

Isso faz com que o cenário para a classe trabalhadora seja bem difícil.

Articulando forças

Nesse contexto, tanto a Cnta como a Contac, as duas confederações que representam os trabalhadores da indústria da alimentação, exigem das empresas, especialmente dos grandes grupos frigoríficos, a unificação de seus critérios para habilitarem os protocolos de prevenção e controle da Covid-19.

Tivemos sucesso com a BRF (Brasil Foods), que nucleia cerca de 100 mil trabalhadores.

Entretanto, é importante frisar que a JBS permanece indiferente e que se recusa a realizar qualquer tipo de negociação seja com os sindicatos, seja com os procuradores do Ministério Público.

Gostaria de destacar o grande trabalho que a Secretaria Regional da UITA vem realizando, não só em conjunto com nossos trabalhadores e trabalhadoras, como também em parceria com as nossas organizações, com o fim de pressionar, denunciar e divulgar o que está acontecendo em nossos frigoríficos, marcando o caminho da resistência contra a destruição dos nossos direitos.

O distanciamento de classe

Desde março, temos mostrado ao governo e às empresas que todas as medidas tomadas foram insuficientes. Portanto, exigimos a criação de protocolos sérios para evitar o contágio por coronavírus em grande escala.

Aqui no Brasil, em média, um frigorífico emprega cerca de 2.000 trabalhadores, chegando em alguns casos a 7.000 trabalhadores. Mesmo assim, as empresas não tomaram uma das medidas essenciais para conter o contágio: reduzir o pessoal para evitar aglomerações.

Pelo contrário, aumentaram a produção não só porque estão exportando mais, como também porque houve um aumento do consumo local.

O que exigimos é que se reduza o número de trabalhadores e de trabalhadoras nos frigoríficos. Para isso, consideramos que a melhor maneira seria diminuir as horas de trabalho.

Com menos trabalhadores por turno, a aglomeração já seria reduzida, principal fator de disseminação da Covid-19. Consideramos que só assim poderemos diminuir o número de infectados nos frigoríficos nacionais.

Infelizmente, no Brasil não temos um banco de dados confiável que nos diga quantos trabalhadores do setor estão infectados por Covid-19, informação essa exigida pelo próprio governo.

Para piorar de vez, Bolsonaro assinou uma portaria determinando que os trabalhadores podem trabalhar a um metro de distância, ou ainda mais próximos uns dos outros, se estiverem usando os equipamentos de segurança.

Essa portaria é o reflexo da falta de seriedade com que este governo enfrenta a pandemia.

Além disso, não será mais necessário fazer testes no pessoal, mesmo naqueles casos onde o Ministério Público tenha fechado alguma fábrica ao constatar a presença de infectados por Covid-19.