SOCIEDADE

39ª reunião do CEL em Brasília

O Brasil é a ponta do iceberg neoliberal

O Brasil, país onde começou nesta segunda, 10 de julho, a 39 reunião do Comitê Executivo Latino-Americano da UITA, é um laboratório do preocupante porvir da América Latina: o “desmonte” das conquistas do movimento operário por parte das forças conservadoras.
A situação no maior país da América Latina foi o assunto central da primeira das duas jornadas do encontro, que reuniu dirigentes sindicais de toda a região. 

Brasil – disseram os representantes das organizações trabalhistas da ArgentinaHondurasCosta RicaMéxico – é, por suas dimensões, um país chave para colocar em prática os planos que o capital transnacional reserva para toda América Latina

“Não é só a questão das reformas. Tanto a Lei das Terceirizações, como as reformas da Previdência Social e do Trabalho formam parte de uma ofensiva para desmantelar toda uma legislação que favorece os trabalhadores e as trabalhadoras, além de enfraquecer os seus representantes, os sindicatos”, disse, entre muitos outros ali presentes, Siderlei de Oliveira, presidente da Confederação Brasileira Democrática dos Trabalhadores da Alimentação (CONTAC). 

“O Brasil é a ponta do iceberg. Depois dele, virão todos os outros países”, afirmaram Ruth Díaz, presidenta da Federação Nacional de Mulheres Trabalhadoras da República Dominicana (FENAMUTRA) e o secretário regional da UITAGerardo Iglesias

É um projeto do capitalismo mundial acabar com os sindicatos. O Brasil é um cenário privilegiado para levar esse plano a cabo, afirmou enfaticamente o argentino Enrique Terny, secretário geral do Sindicato Argentino dos Trabalhadores da Indústria Fideera (SATIF).

Um laboratório
O Chile de hoje
Dois outros objetivos são acabar com as organizações sociais que defendem os povos indígenas e com os grupos que defendem o meio ambiente, porque as transnacionais exercem enorme pressão buscando se apropriarem da terra e dos recursos naturais, as riquezas presentes no subsolo e a água. O Brasil é um país rico em tudo isto, insistiu Iglesias

O gigante latino-americano apresenta por exemplo elevadíssimos índices de violência nas regiões rurais, pautados pelo assassinato de camponeses e de lideranças indígenas. 

Essa violência, em grande parte causada pelo fenômeno da grilagem e da estrangeirização da terra, pode ser traduzida em cifras alarmantes: mais de 40 pessoas assassinadas em conflitos pela terra só neste ano de 2017, sendo que em 2016 foram 61 mortes. 

Mais centenas de pessoas ameaçadas, agredidas e detidas por esses mesmos motivos: só no ano passado houve 74 tentativas de assassinato, 200 ameaças de morte, 71 agressões e 228 prisões.  

O diagnóstico de que as “reformas” implementadas pelo governo de Michel Temer formam parte da guerra do capital transnacional contra os trabalhadores unifica as diferentes centrais sindicais do país, divididas em outras frentes, disse para A Rel, Artur Bueno Júnior, vice-presidente da Confederação Nacional de Trabalhadores da Alimentação e Afins (CNTA Afins). 

“Estamos de acordo, apesar de nossas diferenças basicamente político-partidárias, que estas reformas visam a consolidar o poder do capital, beneficiando apenas as empresas. Coincidimos também em que são obra de um governo absolutamente ilegítimo, apoiado, aliás, por apenas 4 por cento da população”. 

No setor da alimentação, pelo menos, não há diferença nenhuma a esse respeito. “Há um posicionamento unitário entre todos os sindicatos”, afirmou. 

Júnior considerou também de suma importância para os trabalhadores brasileiros o fato de esta conferência acontecer em Brasília”.

“Não estamos em condições de enfrentar sozinhos esta situação, sendo fundamental, portanto, o apoio dos demais países latino-americanos. O capital está pegando pesado não só aqui no Brasil, mas também na Argentina e em outros países”. 

“O Brasil é um laboratório, como foi o Chile décadas atrás. Um laboratório de reformas neoliberais”, declarou Alberto Broch, vice-presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores da Agricultura (CONTAG).

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