-Quais são os problemas que vocês estão enfrentando na Nestlé Equador?
-Quando se dá o primeiro caso de Covid-19 de um trabalhador da empresa, o Comitê solicitou que máscaras e álcool em gel fossem fornecidos para tentar minimizar os contágios e a resposta da empresa foi que o uso de máscaras era contraproducente.
Diziam tanto isso, que o gerente dos médicos em todas as fábricas da Nestlé no Equador me ligou para me dizer isso.
Como todos sabem, o Equador está devastado pela pandemia desde meados de março e as fábricas e seus trabalhadores não ficaram de fora dessa realidade.
Tivemos muitos companheiros com sintomas e a empresa atuou de forma tardia após o primeiro caso, o que fez com que o vírus se propagasse, chegando a contagiar até a médica da nossa unidade em Guayaquil.
A médica, por sua vez, infectou seu núcleo familiar, o que levou à morte de seu marido por Covid-19 e, como se isso não bastasse, dias depois de reintegrar-se após afastamento por falecimento, ela recebe uma ligação da empresa onde é informada de que eles decidiram rescindir seu contrato.
-Que ações foram tomadas pelo sindicato?
-A esta ligação, ela responde que é membro do Comitê de Empresa e que encaminhassem a notificação ao secretário-geral do Comitê. Por minha parte, entrei em contato com a gerência notificando que a médica está amparada pelo acordo coletivo de trabalho e que, portanto, devemos respeitar o protocolo sindical.
No entanto, a empresa considera o fim do contrato da médica como algo definitivo e começa a fazer uma série de mudanças no escritório que era dela.
Por isso, convocamos uma reunião entre trabalhadores e a patronal para discutir essa demissão e irregularidades nos descontos em compras feitas pelos trabalhadores da empresa.
Tudo isso foi a gota d'água, por isso solicitamos ao Ministério do Trabalho que a companheira fosse imediatamente readmitida, por ser uma demissão ilegal e uma violação ao acordo coletivo.
-Há quanto tempo a médica trabalhava na fábrica?
-Ela trabalhava há 25 anos com a Nestlé. Recentemente se filiou ao Comitê. Ela é uma profissional formidável e uma boa pessoa.
-Uma truculência da Nestlé…
-Com certeza. Principalmente, porque a empresa nem sequer concorda em fazer os testes para Covid-19 em seus trabalhadores e trabalhadoras, alegando que não tem os recursos para isso.
Enquanto isso, atua de forma totalmente descuidada, deixando os seus trabalhadores ao deus dará.