Brasil | SINDICATOS | MIGRAÇÃO

Negro, migrante e sindicalista

Em 14 de março, assumiu a nova direção do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria da Alimentação de Serafina Corrêa e Região. Luiz Otávio Magno da Silva, um de seus integrantes, falou com A Rel sobre a discriminação sofrida pelos “diferentes” de qualquer origem dentro do movimento sindical. Ele sabe disso por experiência própria.

-Primeira vez na direção do Sindicato...
-Sim, é a primeira vez que assumo o desafio de fazer parte da direção, mais precisamente do Conselho Fiscal do Sindicato.

-De que setor da indústria você vem?
-Trabalho em um frigorífico avícola chamado Nova Arasa Alimentos, na cidade de Nova Arasa, na Serra Gaúcha.

-Você mencionou que notou muito preconceito na sociedade e nas organizações sindicais. Como esse preconceito se manifesta?
-Exatamente isso. Sou natural de uma pequena cidade do norte do Pará, ou seja, que sou migrante aqui e também sou negro, então posso afirmar que não há apenas preconceitos, mas também discriminação.

-Que tipo de discriminação você sofreu?
-A primeira foi por ser nordestino, migrante dentro do meu próprio país. Os moradores geralmente acreditam que você vem para tirar os seus empregos, quando na realidade deixamos nossos lugares de origem porque não temos outra escolha para poder sobreviver e sustentar nossas famílias.

Migramos em busca de trabalho e de uma vida melhor do que tínhamos, porque no Pará não há trabalho, não há futuro.

-O que significa para você fazer parte desta diretoria?
-Um grande desafio.

Como migrante, posso me conectar com meus companheiros senegaleses e haitianos que trabalham na indústria frigorífica, ajudá-los a partir do meu papel como dirigente sindical. Esse é um dos meus propósitos ao fazer parte dessa direção.

Sindicatos de portas fechadas

-Há muitas organizações que ainda não incorporaram mulheres, grupos LGBT, migrantes...
-Certamente, há muito preconceito dentro das organizações sindicais, a maioria ainda é muito conservadora e fecham seus espaços para as mulheres, as pessoas LGBT, os negros, os indígenas e os migrantes. Daí nossa fraqueza, a falta de inserção na sociedade.

Mas acho que chegou a hora de nos unirmos no Brasil como classe trabalhadora, independentemente de nossa etnia, orientação sexual ou gênero. Temos que entender isso de uma vez por todas.

-Em nome da Rel UITA e de sua equipe meus parabéns e sucesso em sua gestão.
-Muito obrigado por me oferecer esse espaço para dizer aquilo que sempre quis expressar e por dar voz a quem muitas vezes não a tem.


Em Serafina Corrêa, Gerardo Iglesias