Do ponto de vista jurídico-político, trouxe a expectativa da cadeia para mais políticos implicados nos crimes de colarinho branco, sendo que muitos já foram acusados e bem poderiam estar presos. Analisar a questão com seriedade implica em aceitar a prisão de Lula em si.
As infindáveis instâncias de apelação brasileiras são uma piada para o mundo, e sempre cumpriram o papel de livrar das grades os réus com vastos recursos econômicos.
Este é o primeiro ponto: Lula foi condenado, e sua sentença confirmada por um tribunal colegiado (o TRF-4, de Porto Alegre). Tal aceitação deve ocorrer, mesmo diante da covardia do STF (Supremo Tribunal Federal), que pautou o julgamento do Habeas Corpus antes de fechar questão sobre a prisão em segunda instância – há duas Ações Declaratórias de Constitucionalidade na Casa, ambas ignoradas para dar lugar ao caso Lula.
O resultado foi um placar apertado de votação, e que acenderia um caldeirão neste país, no caso da liberação do réu. Após um ato público com forte pegada eleitoral, Lula foi preso, mas a questão continua.
Ainda está em debate, infelizmente, o encarceramento na segunda instância. Atualmente, além dele, é urgente debater a vulgarização do foro privilegiado.
Fica até maçante mencionar que o presidente Temer tem muito mais provas contra ele que Lula, para ser colocado atrás das grades.
Os documentos sobre Lula são frágeis, já sobre Temer há a gravação de um assessor levando uma mala de dinheiro, logo após conversa sobre a compra de uma testemunha (no caso, Eduardo Cunha).
Tudo com a proteção de um Congresso comprado, e que deixou Temer livre como um pássaro.
Parece conversa de petista, mas a prisão de Lula nos torna mais severos para cobrar, por exemplo, a demora na prisão de Paulo Preto – ex-diretor da Dersa, e foco de corrupção que pode envolver as grandes lideranças tucanas incluindo o governador licenciado Geraldo Alckmin (PSDB), cuja pré-campanha eleitoral se encontra a pleno vapor.
E se já citamos o caso das duas primeiras denúncias de Temer, há ainda o que poderia ser a terceira denúncia – o caso Rodrimar – a implicar uma série de figurões do Planalto.
A esquerda pode estar errando, ao manter-se crítica à Operação Lava-Jato e suas conquistas. Promotores e juízes devem, entretanto, aumentar o rigor dos procedimentos, após a prisão do líder petista.
Afinal, temos três elementos de cobrança: a cadeia mesmo em meio ao mérito polêmico, seguida de uma prisão rápida, e um placar apertado de 6 a 5 para decidir sobre prisão em segunda instância.
Aproveitemos tais elementos para impulsionar a investigações, e levar à cadeia outros políticos corruptos.
Foto: Gerardo Iglesias