O movimento sindical de trabalhadores ligados ao setor da Alimentação – desde a Confederação Nacional dos Trabalhadores nas Indústrias da Alimentação e Afins (CNTA), as federações estaduais e sindicatos como o Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Alimentação de Limeira e Região (Stial) -, deve sim, estar preocupado com o efeito que a operação da PF possa trazer aos empregos dos nossos trabalhadores, por culpa destes maus empresários.
Também estamos atentos à repercussão internacional, que já motivou a China a interromper a importação da carne brasileira, medida que pode ser compartilhada pela União Europeia. Isto é ruim para o país, cujo setor de exportação de carnes faturou no ano passado quase R$ 14 bilhões.
Porém, não podemos ignorar os graves crimes contra a saúde pública, supostamente praticados por estas empresas, em conluio com funcionários públicos corruptos. Sendo assim:
- 1- Devemos apoiar a operação “Carne Fraca” da Polícia Federal, esperando que os fatos envolvendo os frigoríficos e fiscais agropecuários sejam apurados com rigor, e que, uma vez comprovados, possam levar à punição exemplar dos envolvidos.
- 2- Esperamos que este escândalo propicie o debate sobre a segurança alimentar e nutricional no país. É preciso que façamos uma ampla discussão na busca de uma alimentação segura, saudável e sustentável, para todas as famílias, inclusive as de menor poder aquisitivo. A segurança alimentar é um direito humano e é dever do Poder Público respeitar, proteger, promover, informar, monitorar e fiscalizar o direito a uma alimentação adequada.
- 3- Que o episódio possa também jogar luz sobre as práticas trabalhistas e ambientais nefastas, praticadas pelas empresas do setor. A questão da soberania alimentar envolve o interesse dos trabalhadores, que têm sofrido com a atuação destas empresas: trabalho análogo ao de escravo, doença e morte de trabalhadores em unidades de produção. Envolve também os interesses da sociedade em geral no tocante ao meio ambiente, colocado em risco pelos crimes praticados pelas empresas, como por exemplo a contaminação de reservas de água.Momentos como este devem servir para pressionar o poder econômico a discutir temas de interesse da sociedade. No caso do pujante setor da carne, o debate vai muito além da qualidade da comida. É preciso, por exemplo, que os lucros dos empresários não financiem crimes e irregularidades dentro da sua cadeia produtiva, inclusive abrangendo o universo político. Respeitar os trabalhadores e o meio ambiente também se faz obrigatório, para um setor que busca o protagonismo econômico, e avança sobre os mercados mundiais levando o nome do Brasil.