Dor pela Nicarágua
Em 1979, a revolução sandinista marcou um antes e depois para todos aqueles que no mundo se opõem ao autoritarismo, à exclusão social, à violação dos direitos humanos e que lutam por construir uma sociedade sobre novas bases, na qual imperem a democracia, a solidariedade, a equidade e a justiça.
As gerações que não tinham vivido a revolução cubana de duas décadas antes, se inspiraram nesses jovens guerrilheiros e poetas que derrocaram uma sangrenta ditadura a serviço da oligarquia nacional e do imperialismo norte-americano, levando a uma profunda transformação social, da qual o povo foi o operário e o arquiteto, o grito de guerra e o diálogo, a base e a vanguarda.
O que acontece hoje no país está muito longe daquele alvoroço renovador, fundante, místico e inspirador para toda a América Latina.
A feroz, sangrenta e repugnante repressão contra os recentes protestos populares de abril, maio e junho, marcam com dramática eloquência a brecha que existe entre a sua administração – indolente e imoral – e o povo nicaraguense que, ao perder a esperança, perdeu também a paciência.
O desprezo de seu governo pela juventude militante, que de forma rebelde expressa sua insatisfação e cansaço diante de tanta violência, caminha de mãos dadas com a tentativa de seu governo em jogar no esquecimento a própria história revolucionária, bem como seus heróis, cânticos e símbolos. Hoje, com a mesma intensidade que a história os condena, a juventude os rejeita.
Vocês e seus cúmplices subservientes erraram ao considerar que com a mão dura, com centenas de mortos e feridos, com suas psicodélicas “arbolatas” (estruturas metálicas em forma de árvore) e com o esoterismo como instrumento político, seu governo poderia idiotizar ou atemorizar um povo que não se esquece, que continua atiçando os fogos sandinistas que são os que iluminam e mostram o caminho na escura noite.
Nicarágua dói em todos nós.
Mas nem tudo estará perdido sempre que o povo for para as ruas.
Gerardo Iglesias Aguirre
Secretário Regional UITA
Jair Krischke
Presidente do Movimento de Justiça e Direitos Humanos (MJDH)
* A Rel-UITA é uma federação de sindicatos de setores da alimentação, turismo, tabaco, rurais e afins que reúne 87 organizações de 18 países da região. Sua atuação não se restringe apenas ao âmbito do trabalho; mas também na defesa e promoção dos direitos humanos, parte do compromisso social e político da organização, desde sua fundação em 1967.
O Movimento de Justiça e Direitos Humanos (MJDH) foi fundado em 25 de março de 1979. Mais de mil pessoas perseguidas pela Operação Condor receberam a solidariedade e o apoio do Movimento e conseguiram se exiliar na Europa. Jair Krischke, presidente do organismo é também assessor em Direitos Humanos da Rel-UITA.