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Sequestram e executam dirigente do MST

As novas formas de uma velha violência

Os assassinatos de líderes rurais, sindicais e comunitários são moeda corrente no Brasil e a impunidade de suas mortes perpetua essa violência.
Foto: Gerardo Iglesias | Rel UITA

Os assassinatos de líderes rurais, sindicais e comunitários são moeda corrente no Brasil e a impunidade de suas mortes perpetua essa violência.

Desde os emblemáticos assassinatos de Chico Mendes e da missionária estadunidense Dorothy Stang, passando pelo massacre do Eldorado dos Carajás, onde 19 agricultores sem terra foram executados há mais de 20 anos, até o mais recente massacre de Pau D’Arco, em 2017, onde as forças policiais mataram 10 trabalhadores rurais, a violência no campo brasileiro é constante.

Mas, agora não só se acentua na região norte. Também no sul do país vem crescendo o número de conflitos agrários e de mortes violentas de líderes rurais.

Neste domingo, 25 de outubro, foi encontrado o cadáver de Ênio Pasqualin, dirigente estadual do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).

Ênio fora sequestrado em 24 de outubro, sábado, quando estava em casa com sua família, no assentamento Ireno Alves dos Santos do município de Rio Bonito do Iguaçu, interior do Paraná.

De acordo com o relato de sua esposa, vários homens armados apareceram de surpresa e o levaram em seu próprio carro. Além disso, roubaram celulares, documentos e objetos pessoais da família.

Na manhã seguinte, Ênio foi encontrado morto às margens de uma estrada do município de Rio Bonito, com indícios de ter sido executado.

Em sua declaração para a polícia local, sua esposa disse que estava sendo ameaçado por WhatsApp. Baseados nisso, investiga-se um possível motivo político.

Em um comunicado, o MST lamentou este novo crime contra um de seus militantes, ao mesmo tempo em que exigiu das autoridades competentes uma exaustiva investigação e o esclarecimento do caso.

De acordo com a deputada federal do PT pelo Paraná, Gleisi Hoffman, as ameaças de despejo e o ataque à vida dos dirigentes rurais por parte dos latifundiários locais são cada vez mais frequentes.

No meio rural paranaense, disse, a violência é uma realidade há muito tempo.

E isso piorou com as eleições de Jair Bolsonaro como presidente e de Ratinho Junior como governador do Paraná, enfatizou Hoffmann.

De acordo com o último relatório elaborado pela Comissão Pastoral da Terra (CPT), em 2019 houve 1.833 conflitos, 23 por cento mais que no ano anterior, sendo este o maior número nos últimos 15 anos.

A cifra representa cinco conflitos por dia. Desse total, 1.254 estavam relacionados com a terra e 489 com a água, enquanto que 90 se davam no local de trabalho.

O número de pessoas envolvidas caiu 11 por cento, chegando a 859.023. Mas, o número total de assassinatos cresceu 14 por cento, chegando a 32 vítimas. Quase a metade (47 por cento) eram lideranças, tanto de indígenas quanto de trabalhadores rurais.

Ainda não há dados oficiais sobre os conflitos agrários que resultaram em mortes violentas em 2020.