-Você se pergunta como acabar com o manto do silêncio...
-Sim, é muito preocupante. Partimos da base de que não podemos continuar na invisibilidade.
Devemos divulgar os níveis de exploração da mão-de-obra e do trabalho, bem como o fenômeno da concentração e estrangeirização da terra, a violação dos direitos humanos em geral, e particularmente dos direitos trabalhistas no Brasil, que são assustadores.
Estamos vivendo um momento particularmente sério. A mídia oficial esconde isso e, portanto, temos que quebrar esse silêncio e elaborar novos formatos que cheguem às pessoas, maciçamente socializados. Nesse sentido, a parceria com a Rel UITA é fundamental.
-Quais seriam as situações no campo brasileiro que precisam ganhar visibilidade aos olhos do público?
-O aumento da violência no campo e, neste quesito, um dos objetivos é combater a desinformação, onde muitas vezes os grandes donos de terra, os latifundiários, se fazem de vítimas dos camponeses sem terra, vistos como quem não quer o progresso do país.
O governo está fazendo tudo o que pode para legalizar as terras públicas apropriadas pelos latifundiários e, ao mesmo tempo, está deixando que os donos dos latifúndios atuem com violência e em total impunidade contra camponeses, povos indígenas e quilombolas.
-O que a grande mídia veicula, por outro lado, é a grandeza do agronegócio e das tecnologias empregadas, vistos como símbolo do Brasil moderno...
- Não estamos contra a incorporação da tecnologia, sempre e quando gere bem-estar para todos.
Tecnologia que, por outro lado, liquida o emprego e concentra riqueza, não é necessária para o país. Não queremos essa modernidade, queremos aquela que produz qualidade de vida para todos, não para um punhado de grandes empresas. Esse é precisamente um dos grandes problemas que temos no Brasil e que devemos visibilizar.
- Você acha que é preciso encontrar outras formas de comunicação?
- Sim, não tenho dúvidas. Como você sempre mostra, é preciso fazer o trabalho de campo. Percorrer as principais regiões produtoras do país, entrevistando as pessoas, capturando imagens do trabalho pesado que é feito, das terríveis condições de trabalho que fazem parte do DNA da atividade agropecuária deste país.
Dizem que uma boa imagem vale mais que mil palavras. Pois então, você tem que procurar aquelas imagens que gerem empatia, que despertem a indignação e que denunciam as situações aberrantes ocorridas no campo brasileiro.
Em Brasília, Gerardo Iglesias