“Quando a gente fala de saúde, falamos de privilégio. E esse curso traz, na sua essência, uma proposta decolonial e transgressora”. A afirmação foi da representante do Movimento das Pescadoras e Pescadores Artesanais, Elionice Sacramento, durante o encerramento do Curso de Especialização em Promoção e Vigilância em Saúde, Ambiente e Trabalho - turma Caruaru, Agreste pernambucano, que aconteceu no último final de semana.
O curso teve como objetivo qualificar lideranças e profissionais da saúde para o fortalecimento do Sistema Único de Saúde (SUS) que está em acelerado processo de desmonte com o atual governo Bolsonaro.
Por meio do aprofundamento dos conhecimentos das Políticas Nacionais de Saúde Integral das Populações do Campo, da Floresta e das Águas (ainda não implementada em nível estadual e municipais) e da Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora, buscou-se estimular relações intersetoriais e práticas participativas de base territorial.
Diferentemente de outras formações no campo da saúde, essa propôs uma formação político-ideológica visando a construção de sujeitos críticos comprometidos com a saúde como direito fundamental e com a consolidação, fortalecimento e ampliação do SUS como forma de acesso a este direito. Assim, foram desenvolvidos 16 projetos de intervenção nos territórios onde as/os educandas/es atuam.
Foram projetos que discutiram e aprofundaram os conceitos de equidade, universalidade das políticas de saúde do SUS e outras práticas de saúde, em especial as naturais, em consonância com as realidades de crianças, mulheres, agricultoras/es familiares, assalariadas/os rurais, quilombolas e trabalhadores teleoperadores.
Bem como com a luta antimanicomial, o uso de plantas medicinais, feiras de agricultura familiar, desmedicalização de ansiolíticos, redução de danos e o reuso de água cinzas através de bioágua em assentamento.
Leandro Araújo, da Rede de Médicas e Médicas Populares, parceiro do curso, chama a atenção para o momento histórico do desenvolvimento que dita a forma de adoecer e como deve ser o cuidado. Assim, “não dá para pensar processos formativos sem pensar processos de intervenção com a sociedade”, afirma.
Durante o debate “Luta pela saúde: Formação e articulação de redes para promoção de Territórios Saudáveis e Sustentáveis (TSS) ”, que antecedeu o ato político de encerramento, Paulo Petersen, da Articulação Nacional da Agroecologia, falou sobre os prejuízos provocados pelas diversas expropriações, promovidas pelo sistema capitalista, que limitam e até impedem as pessoas da relação com a natureza. Ele fez um paralelo entre essas condutas e a prática da medicina que produziu um afastamento dos profissionais com a população.
O Curso foi organizado em três ciclos, I – Determinação Social da Saúde e Movimentos Sociais, II – Bases teórico epistemológicas do Sistema Único de Saúde e III – Atenção integral e Vigilância de base territorial em Saúde e Ambiente - compostos por módulos que foram construídos com base nos princípios e diretrizes do SUS, com ênfase em temas que integram promoção da saúde, ambiente e trabalho; determinação social da saúde; vigilância de base territorial e participativa. 46 educandas/os, entre lideranças dos movimentos sociais e profissionais da saúde, tornaram-se especialistas, numa ação da Fundação Oswaldo Cruz com diversos parceiros.
Fotos: Coordenação do Curso e Ronaldo Patrício