Honduras nos dói. Em seu passado recente, sofreu um golpe de Estado, suas manifestações reprimidas e criminalizadas, presenciou assassinatos seletivos, saques de propriedades e de bens comuns, corrupção e impunidade. E agora, uma fraude nas eleições, que beira à desfaçatez, empurra o país para o precipício, em meio a uma grave crise política e social.
Uma importante parte da população está nas ruas, protestando pelo que considera uma grosseira fraude eleitoral orquestrada contra o candidato da Aliança de Oposição, Salvador Nasralla.
Em 14 dos 18 departamentos do país, pontes, praças, avenidas e estradas foram ocupadas, exigindo das autoridades eleitorais que respeitassem a vontade do povo e o fim da manipulação dos resultados.
O Exército e a polícia já reprimiram o protesto, contabilizando uma morte, além de vários feridos tanto na capital como em outras cidades do país.
De acordo com os dados oficiais, com 94,31 por cento das atas das mesas eleitorais escrutinadas, o candidato oficialista Juan Orlando Hernández supera o seu oponente da Aliança de Oposição em cerca de 45 mil votos (1,5 por cento).
A partir desta sexta-feira, o Tribunal Supremo Eleitoral deverá realizar uma recontagem, voto por voto, de todas as atas que foram passadas a “escrutínio especial”, por terem algum tipo de anomalia.
São mais de mil atas, representando quase 300 mil votos, o que favoreceria amplamente Nasralla. As missões de observação da OEA e da UE insistiram para que este escrutínio se realizasse na presença de todas as forças políticas e dos observadores internacionais, para garantir a máxima transparência.
Esta decisão surge de uma ação da Aliança de Oposição, denunciando a introdução de atas adulteradas no cômputo do Tribunal Supremo Eleitoral (TSE), bem como eventos muito suspeitos como a queda do sistema e do servidor em diferentes ocasiões.
A ação denuncia também a introdução no sistema de mais de 5 mil atas, sem a presença de representantes dos partidos.
Nasralla alertou que a Aliança não reconhecerá os resultados divulgados pelo TSE, sem que antes sejam cumpridas as exigências feitas pela OEA e pela UE visando à transparência do processo.
O presidenciável também condenou a repressão contra simpatizantes desta organização.
“Quero condenar a repressão que nossos compatriotas estão sofrendo aqui em Honduras. Houve infiltrados do governo em nossas manifestações de protesto para gerar violência.
Mas, aqui a única pessoa que gera violência é o presidente da República, porque está violentando a vontade popular.
Só dois hondurenhos em cada dez estão de acordo com ele, 80 por cento o querem fora”, postou Nasralla nas redes sociais.
Já a Convergência contra o Continuísmo emitiu sua terceira proclamação, onde oferece como possível solução a esta crise, a contagem física de ata por ata, depurando e comparando as atas do TSE com as dos partidos.
A Convergência também propôs a abstenção, por parte do TSE, de proclamar o ganhador até a nova contagem ser finalizada.
“Estamos sendo vítimas de um roubo e eu denuncio isso internacionalmente. Nenhum país do mundo vai reconhecer uma vitória ilegal.
Todos sabem que a tendência de uma margem de cinco por cento de vitória sobre o Hernandez, com 70 por cento das atas contabilizadas, é irreversível. E querem nos fazer acreditar que, faltando apenas 30 por cento, essa tendência tenha se invertido. Isto é matematicamente impossível. É um absurdo”, concluiu Nasralla.