A reportagem do Brasil de Fato Mortes, sequelas e trabalho exaustivo: o rastro da covid-19 em grandes frigoríficos venceu o Prêmio Anamatra de Direitos Humanos 2022 entre os concorrentes de mídia impressa. De autoria de Daniel Giovanaz, Vanessa Ramos e Renan Xavier, ela foi publicada em novembro de 2021.
O texto traça um raio-x preocupante da realidade vivida por trabalhadores em frigoríficos do país, em especial durante a pandemia do coronavírus. São casos de negligência e pressão para que se trabalhe cada vez mais, em ambientes insalubres. Os resultados são lesões permanentes e até mortes. Entre janeiro e novembro de 2021 –até a publicação da reportagem– 49 trabalhadores haviam sofrido ferimentos graves ou morrido dentro de frigoríficos brasileiros.
A situação se torna mais cruel quando se constata que o setor nunca vendeu tanto – para o exterior. Enquanto isso, o consumo de proteína animal vem caindo no Brasil, por causa das crises que levaram ao aumento da fome no país.
Outro ponto alarmante: a reportagem mostra como as leis que regulam o setor vêm sendo afrouxadas e podem piorar ainda mais em termos de segurança para o trabalhador, com o objetivo de aumentar o lucro.
A reportagem obteve vídeos exclusivos que mostram a realidade opressora dentro destes locais.
"As condições perversas de trabalho e as perdas humanas registradas nos frigoríficos durante a pandemia são consequências do negacionismo do governo Bolsonaro, mas também da destruição de direitos sociais e trabalhistas, que se aprofunda desde 2016.
Brasileiros e brasileiras se sacrificaram para garantir a produção de carne em um ritmo espantoso, como mostram os vídeos que inserimos na reportagem", afirma o jornalista Daniel Giovanaz, um dos autores da reportagem.
"As empresas tiveram lucros bilionários com exportações, mas essa carne passou longe do prato das famílias trabalhadoras, que enfrentam até hoje o drama da insegurança alimentar. É uma injustiça tremenda, que se radicaliza em tempos de pandemia."
"Estamos muito gratos pelo reconhecimento da Anamatra e entendemos que o prêmio reforça a importância do jornalismo e da reportagem para consolidação da democracia em tempos tão sombrios."
Coautora da reportagem, a jornalista Vanessa Ramos disse que "a pandemia de covid-19 aprofundou um cenário de dificuldades já existentes nos frigoríficos".
"Além da falta de equipamentos de proteção adequados, os trabalhadores tiveram que lutar contra ações do governo Bolsonaro diante da proposta de revisão da norma regulamentadora 36, uma das principais conquistas do movimento sindical que regula as atividades do setor para evitar adoecimento e mortes nas fábricas."
Em 2022, o prêmio Anamatra (Associação Nacional de Magistrados da Justiça do Trabalho) chega à sua décima edição. O prêmio foi criado para valorizar ações concretas de promoção e defesa dos direitos humanos nas relações de trabalho, atinentes à educação para o pleno exercício dos direitos sociais; ao combate a todas as formas de discriminação no mercado de trabalho; à inclusão de deficientes; ao combate ao trabalho infantil, escravo e degradante; à defesa do meio ambiente do trabalho e à defesa e promoção do trabalho decente.
Em 2022, a premiação contou com 105 inscrições, 43 delas apenas na categoria mídia impressa. A matéria Mortes, sequelas e trabalho exaustivo: o rastro da covid-19 em grandes frigoríficos foi uma das cinco premiadas pela Anamatra.