Ignacia era irmã de Mirna Suazo Martínez, presidenta da patronal de Masca e defensora do território garífuna, assassinada em setembro passado, e de Amada Piota Martínez, integrante da coordenação geral da Ofraneh.
Em dezembro, desconhecidos abriram fogo contra a casa de Amada, ferindo a Paula Álvarez, ativista muito próxima à líder garífuna.
São 20 membros das comunidades garífunas hondurenhas assassinados no ano passado, a maioria comprometidos com a defesa dos territórios ancestrais e dos bens comuns.
“Foi um ano nefasto para o povo garífuna. No caso da comunidade de Masca, há um processo de recuperação das terras comunitárias, que foram ilegalmente concedidas a pessoas de fora de comunidade.
“Estamos frente a uma estratégia de espoliação e expulsão de nosso povo, que tem um forte componente de violência racista” disse a Rel-UITA, Miriam Miranda, coordenadora da Ofraneh.
Recém agraciada com o Prêmio Direitos Humanos 2019 da Fundação Friedrich Ebert (FES), ela explicou que estes “invasores” pretendem tomar o controle das terras comunitárias e estão mantendo Amada Piota Martínez e sua família na mira.
“Estamos enfrentando uma campanha midiática para que se pense que se trata de conflito familiar, mas sabemos que o objetivo é semear o terror na comunidade para que o povo se vá”, afirmou Miranda.
As mulheres são as principais vítimas desta violência e a impunidade reina soberana.
“É preciso deixar claro que o sistema de aplicação da justiça em Honduras é patriarcal e profundamente racista.
Ninguém investiga, nem mesmo estão aceitando depoimentos sobre os assassinatos do ano passado. Estamos em total desamparo.
Tudo isso revela a falta de vontade política e o racismo do estado hondurenho para com o povo garífuna”, expressou a coordenadora da Ofraneh.
Outro exemplo do que afirma Miriam Miranda é o fato de que, depois de cinco anos, o Estado siga desconhecendo as sentenças condenatórias da Corte IDH para os casos das comunidades garífunas de Punta Piedra1 e Triunfo de la Cruz2.
A dirigente garífuna aproveitou a ocasião para agradecer a Rel-UITA por estar divulgando, em nível internacional, o que ocorre em Honduras com o povo garífuna e os povos indígenas em geral.
“Hoje, mais do nunca, a defesa dos territórios e bens comuns é criminalizada e reprimida. Nossos direitos são constantemente violados e o Estado é cúmplice destas violações.
Sentir esta solidariedade e poder visibilizar a situação em que vivemos passa a ser extremamente importante”, concluiu Miranda.