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Bolsonaro tem uma boca de latrina

A retórica de uma campanha eleitoral traz sempre o objetivo de propor temas junto ao eleitorado cativo, mas também o de atacar os adversários com palavras que às vezes saem do controle. Mas quando o presidente da República reproduz o aspecto mais agressivo do discurso eleitoral, já ocupante de cargo público, devemos nos preocupar.

A retórica de uma campanha eleitoral traz sempre o objetivo de propor temas junto ao eleitorado cativo, mas também o de atacar os adversários com palavras que às vezes saem do controle. Mas quando o presidente da República reproduz o aspecto mais agressivo do discurso eleitoral, já ocupante de cargo público, devemos nos preocupar.

Jair Bolsonaro parece não ter qualquer restrição ao uso da retórica mais radical, violenta, chula até, para se posicionar. Suas palavras contra qualquer grupo que lhe ameace oposição, já ensejam medidas do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal.

Insanidade é uma hipótese levantada pelo jurista Miguel Reale Júnior, figura de proa na vida brasileira, bastante distante dos grupos que fazem a oposição mais acirrada a Bolsonaro. Foi inclusive um dos autores do processo de impeachment da ex-presidenta Dilma Rousseff. O acompanham outros membros da sociedade não relacionados à chamada “esquerda”.

Emergindo de uma obscura parte da sociedade que defende a Ditadura Militar instalada no Brasil em 1964, o presidente acusou a jornalista Mirian Leitão de ter participado da Guerrilha do Araguaia, além de dizer que ela teria mentido sobre ter sido torturada neste período. Mirian nunca participou desta ação no Centro-Oeste do país, e teve o drama pessoal e humano desprezado de forma sádica.

O mesmo sadismo Bolsonaro exibiu quando atacou o presidente da OAB. Sabedor que o pai do presidente federal da Ordem, Felipe Santa Cruz, havia sido assassinado pelas forças de repressão durante o período militar, o presidente da República afirmou que “se ele (Felipe) quiser saber como o pai desapareceu, eu conto”.

Tentava impor a mentirosa narrativa de que a vítima do regime, na verdade teria sido perigoso guerrilheiro. Não há qualquer notícia da participação efetiva de Fernando Santa Cruz em ações de luta armada. Bolsonaro, neste caso, contraria informações fornecidas pelas próprias Forças Armadas.

O meio ambiente é outro dos alvos de Bolsonaro, alinhado até a medula com o agronegócio mais selvagem. Tentou desmentir dados técnicos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) sobre o desmatamento da Amazônia, alegando exagero sobre o alerta de destruição da mata.

A respeito da criação de uma área turística em reserva ambiental na cidade de Angra dos Reis, disse que só “veganos” se preocupariam com o ecossistema dali.

Sobre os nordestinos, a quem se referiu pela pecha preconceituosa de “paraíbas”, mostrou incapacidade institucional e democrática ao satanizar o governador Flávio Dino (PCdoB), do Maranhão, prometendo isolá-lo de qualquer amparo federal.

Disse que no Brasil não se passa fome, ironizando o drama de milhões. Foi leviano também ao responder sobre o uso por familiares do avião da Força Aérea Brasileira (FAB), para irem ao casamento de Eduardo Bolsonaro, seu filho. Chamou de “idiota” a pergunta de repórter sobre o tema, como já havia chamado de “idiotas”, os manifestantes contra a retirada de verbas da Educação.

Em uma democracia que necessita muito da estabilidade, o mandatário da nação expressa o oposto. A ponto de abalar o equilíbrio institucional, e prejudicar de forma permanente a conciliação política. Suas loucuras não fazem graça, e têm como manancial o mais baixo sentimento de ódio e revolta, nada possuindo de espírito público.

Bolsonaro foi eleito presidente, e não imperador. Está na hora de começar a responder pelos atos e palavras, diante dos outros poderes.