-Como você avalia esta atividade?
- Posso dizer que tivemos a coragem de realizar este importante seminário, considerando a situação do país e, principalmente, porque queremos preservar a saúde e a segurança dos trabalhadores e das trabalhadoras do setor.
É sabido que a indústria frigorífica no Brasil é uma das que mais provoca doenças em seus trabalhadores, seja porque impõe um ritmo de trabalho intenso, como também pelas temperaturas baixíssimas enfrentadas.
Os movimentos repetitivos, o frio exigido pelos produtos processados e, muitas vezes, as condições precárias dos frigoríficos que geram acidentes por fuga de amônia (produto químico utilizado na refrigeração) deixam sequelas terríveis em muitos trabalhadores e trabalhadoras.
O seminário ocorre nesse atual contexto de precarização crescente das condições de trabalho, onde os trabalhadores são ferozmente atacados nos seus direitos pela extrema-direita representada pelo governo de Jair Bolsonaro.
Este cenário agrava os riscos de os trabalhadores sofrerem acidentes de trabalho ou de contraírem doenças relacionadas com a profissão.
Ciente disso e diante dos altos índices de acidentes ocupacionais, o SINTIACR realiza em parceria com o Ministério Público do Trabalho, mais precisamente com o Procurador do Trabalho Sandro Sardá, a monitoração das condições de trabalho nos frigoríficos, através da aplicação da NR36.
-As empresas da indústria frigorífica estão cumprindo esta norma?
- A NR36 foi aprovada em 2013, depois de uma longa e dura luta do movimento operário nacional e internacional, sendo uma importante ferramenta para os sindicatos melhorarem as condições de trabalho, de saúde e de segurança nos frigoríficos. Porém, sozinha não é suficiente.
Portanto, começamos a tomar outras medidas para garantir a saúde dos trabalhadores como, por exemplo, promover acordos nacionais com as principais cadeias frigoríficas do país para que estipulem um número menor de peças a desossar por minuto.
É certo que os intervalos intrajornada estão sendo cumpridos, porém a diminuição do ritmo de trabalho na cadeia produtiva frigorífica é uma meta a ser alcançada antes de 2021, por meio da implementação de acordos conjuntos entre sindicatos, empresários e o Ministério Público.
- Existe apreensão de que as novas medidas do governo atual afetem a implementação da NR36?
- Realmente, tudo pode acontecer com este governo fascista, que dia-a-dia demonstra seu desprezo pelas classes populares e que pretende aniquilar as estruturas organizativas dos movimentos sociais e sindicais, promovendo a criminalização dos protestos sociais, tentando cortar o financiamento para os sindicatos. Governo este que eliminou o Ministério do Trabalho e que não condena o assassinato de cidadãos e de líderes comunitários. Aproveito apenas para citar alguns exemplos de uma lista interminável.
-As declarações pró-Israel realizadas pelo Bolsonaro afetaram o mercado avícola, considerando que os países árabes são os principais importadores de frango halal?
-A retaliação foi quase imediata. A Arábia Saudita cancelou as importações de cinco frigoríficos e Amr Mohammed Moussa, o ex-secretário-geral da Liga Árabe, que reúne 22 países, declarou que essa medida foi uma resposta à decisão do governo de Jair Bolsonaro de querer transferir a embaixada brasileira, em Israel, de Tel Aviv para Jerusalém.
Para piorar, o presidente continua lançando ataques para tudo que é lado. Recentemente, foi contra a China, portanto, obviamente a preocupação dos sindicatos da indústria frigorífica é enorme e justificada.
Sendo assim, eventos como este seminário são fundamentais para enfrentarmos esse tsunami.
A parceria com a UITA é primordial para termos um espaço internacional de denúncia contra estes ataques à classe trabalhadora, praticados pelo governo brasileiro, repleto de ignorantes, e que terminam afetando o mercado nacional.