“Bolsonaro sempre fala do feminicídio como se fosse piada, tanto que em uma entrevista disse que em seu governo não haverá feminicídios, porque ele dará armas às mulheres para que se defendam.
Como se o Brasil fosse uma terra sem lei”, disse Rosecleia para A Rel no encerramento da última reunião do CEL, no dia 7 de dezembro, em Buenos Aires.
“Nós brasileiras também vivemos violência em nossos ambientes de trabalho. A reforma trabalhista de 2017 contribuiu para aumentar a desigualdade entre homens e mulheres, e o que se projeta caminha em direção de aprofundar essa desigualdade”.
“Enfim, essa realidade já bastante complicada tende a piorar”.
-Pese a isto, o movimento feminista no Brasil é bastante forte.
-Sim, é certo. Os movimentos sociais de mulheres são os que vão às ruas e fazem a resistência. Porém, temos que considerar o fato de o próximo governo, de extrema-direita, ter prometido que resolverá tudo apelando às forças armadas e à violência. E esta é uma situação nova.
Meu medo é como vamos defender os nossos direitos?
O pior de tudo é ver que muitas mulheres votaram no Bolsonaro, muitas aliás da comunidade LGBTI.
-Como se explica essa contradição?
-A meu ver o grande responsável de este louco ter sido eleito presidente do Brasil foi o PT. Porque o fato é que os brasileiros votaram contra o PT.
A imprensa também desempenhou um papel importante. Diariamente havia manchetes sobre roubos, desvios de verbas públicas, ineficácia e saturação do sistema público de saúde, ou seja, um caos. E então, Bolsonaro se apresentou como o salvador da pátria, como aquele que tudo consertaria matando delinquentes e opositores.
É real no país a crise na saúde pública, educação, moradia, enfim, direitos básicos aos quais a maioria da população não tem acesso.
A situação é tão ruim que só contribuiu para que o Bolsonaro ganhasse.
Os movimentos sociais sempre estiveram do lado do PT, até o momento em que já não havia como defender o partido.
E o que veio foi ainda pior, claramente. A Reforma Trabalhista, promovida pelo governo de Michel Temer e aprovada pelo parlamento terminou minando a existência dos sindicatos e as centrais, ao eliminar a obrigatoriedade do imposto sindical.
Agora estamos aguardando para ver como serão os primeiros 100 dias do governo Bolsonaro, e aí definir quais estratégias adotar para continuar na luta.
-Qual é o balanço que você faz das reuniões de 5, 6 e 7 de dezembro, onde participaram dirigentes sindicais da UITA de outras regiões do mundo?
-Perfeita, porque ao compartilhar experiências e realidades, a gente sai fortalecido e revigorado para continuar trabalhando.
A solidariedade da UITA que nós brasileiros sentimos diante da situação que estamos vivendo foi alentadora. Saber que não estamos sozinhos nesta batalha nos fortalece muito.
-Uma das questões discutidas na reunião do CEL foi a do combate diário à discriminação de gênero, ao machismo, dentro dos próprios sindicatos.
-Meu sindicato é bastante ativo no combate ao machismo e à discriminação de gênero. Aliás, eu participo da Comissão de Saúde e Segurança e todo o tempo estamos realizando oficinas e debates sobre esse assunto.
Em todas as atividades, tanto do sindicato como da federação, incluímos a perspectiva de gênero. Damos muita ênfase a este assunto porque o problema da discriminação e da violência às mulheres existe e temos que insistir até o cansaço para visibilizá-la.
É uma luta diária, e assim faremos hoje e sempre.
Não podemos esperar que as empresas assumam este papel, porque a maioria simplesmente nega essa situação. Portanto, são as organizações sindicais quem tem a capacidade de convocar as bases e quem deve lutar por transformar a realidade.
Em Buenos Aires, Daniel Gatti