Brasil | CAMPO | VIOLÊNCIA

Carta aberta da Rel-UITA contra prisão do padre Amaro

Agronegócio, impunidade e criminalização da luta social

No final de março deste ano, o padre José Amaro Lopes de Sousa, líder rural, pertencente à Comissão Pastoral da Terra (CPT), e pároco da Prelazia de Xingu, foi detido após ser acusado de diversos delitos.

Não há prova alguma para estas acusações, entretanto para comprovar a enorme vontade das autoridades federais e do estado do Pará em criminalizar e destruir as organizações sociais e sindicais que trabalham a favor dos assalariados, dos camponeses, dos indígenas e das populações mais pobres em geral, provas não faltam.

Está claro “que há uma tentativa de calar a voz de quem acompanha e trabalha junto aos trabalhadores e trabalhadoras rurais da região. É uma estratégia planejada pelos fazendeiros locais que não aceitam o trabalho comunitário do Padre Amaro”, disse o coordenador regional da CPT no Pará, Gilson Rego.

A justiça, que olha mas não vê, se negou a escutar os argumentos do Padre Amaro. E, para mantê-lo em prisão preventiva, baseou-se unicamente nos depoimentos dos fazendeiros. Em Anapu a violência nos conflitos pela terra é uma constante há muitos anos, cujos responsáveis, em sua maioria, são os empresários e/ou o Estado.

Um fato emblemático foi o assassinato em 2005, por pistoleiros, a mando de um fazendeiro local, da missionária norte-americana Dorothy Stang.

Não se pode esquecer que o sucessor da irmã Dorothy Stang é justamente o Padre Amaro, que trabalhou muitos anos junto a ela na defesa dos direitos das comunidades rurais em Anapu.

Ao mesmo tempo em que a Justiça do Pará entendeu que a liberdade provisória deve ser negada ao “padre dos pobres”, mesmo não sendo responsável por crime algum, decidiu concedê-la aos pistoleiros acusados de participar do assassinato da irmã Dorothy Stang.

Além disso, o Pará é um estado cenário de massacres de camponeses, como o de Eldorado do Carajás (1996) e o de Pau D’Arco (2017).  

Juntos Pará e Rondônia são os estados do Brasil com maior número de assassinatos de ativistas sociais: dos 61 e 71 assassinatos de ativistas de 2016 e 2017 respectivamente, estes dois estados somam mais da metade.

A prisão do Padre Amaro é mais um exemplo da impunidade que reina no Brasil. Afinal, este é um país onde a lei que vale é a dos que mais têm. No campo, são os maiores culpados pelo desmatamento de enormes ecossistemas. Impunes, são os campeões em crimes por trabalho escravo. Blindados pela justiça, usam suas armas de fogo contra ativistas sociais, quilombolas e povos originários do Brasil.

Portanto, a Rel-UITA, junto às suas 87 filiadas de 18 países da América Latina e o Caribe, exige a libertação imediata do Padre Amaro, bem como o fim da violência no campo.

Unimo-nos também às organizações de todo o mundo, exigindo do Brasil uma justiça que funcione, que combata a impunidade e a criminalidade no campo, lugar que se transformou numa incontrolável máquina de produzir terror.

Finalmente, estendemos o nosso apoio e solidariedade internacional ao Padre José Amaro Lopes de Sousa, bem como o nosso compromisso com as ações que, de maneira firme e decidida, visarem a exigir sua liberdade imediata.

Sindicalmente,
Gerardo Iglesias
Secretário Regional UITA