No final de março deste ano, o padre José Amaro Lopes de Sousa, líder rural, sucessor da missionária Dorothy Stang na Comissão Pastoral da Terra (CPT) em Anapu e pároco da Prelazia do Xingu, foi acusado de diversos crimes, detido e preso sem provas.
“Acreditamos haver uma tentativa de calar a voz de um ativista que acompanha e trabalha em defesa e junto dos trabalhadores e das trabalhadoras rurais na região. É uma estratégia planejada pelos fazendeiros locais, por se sentirem incomodados com o trabalho comunitário liderado pelo padre Amaro”, informa Gilson.
Apesar de toda a repercussão e transcendência do assassinato da irmã Dorothy Stang, morta por pistoleiros locais, em 2005, o município de Anapu continua revelando uma violência sistemática, diretamente vinculada aos conflitos pela posse da terra, afirmou.
“O padre Amaro, quem trabalhou por 15 anos com a irmã Dorothy na defesa dos direitos das comunidades rurais em Anapu, naturalmente se transformou em seu mais notável sucessor. A partir de então, entrou na mira de quem não quer este tipo de trabalho social”, destacou.
“Há bastante tempo o padre Amaro vivia sendo ameaçado de várias formas, incluindo ameaças de morte. Pois agora, conseguiram dar um jeito de criminalizá-lo e encarcerá-lo”, destacou.
Gilson afirma também que a CPT questiona fortemente a justiça do Pará por não terem escutando as declarações do padre.
Os desembargadores do Tribunal de Justiça (TJPA) decidiram mantê-lo em prisão preventiva, baseados apenas nos depoimentos dos fazendeiros locais, que são os mesmos que o ameaçavam.
“Há interesses para que o padre Amaro continue preso, para que não volte a realizar o seu trabalho de ativista comunitário, e para que, com sua prisão, a voz da comunidade seja calada”.
Na segunda-feira, 4 de junho, a Justiça do Pará negou o pedido de habeas corpus ao padre Amaro.
“Não podemos deixar de ficar perplexos, principalmente considerando que a mesma justiça que mantém o padre Amaro preso, sem provas, é a que recentemente deu liberdade condicional a um dos envolvidos no assassinato da irmã Dorothy. É uma mistura entre perplexidade e medo”, afirmou Gilson.
Consultado se a violência na região do Pará aumentou depois da destituição da presidenta Dilma Rousseff, em 2016, Gilson Rego insistiu que não gosta de fazer essa diferenciação entre o antes e o depois do impeachment.
“A violência no Pará sempre esteve, não é nova e não foi menor durante os governos de Lula e Dilma. O que sim percebo é que, a partir do impeachment, os responsáveis por esta violência - muitas vezes o próprio Estado e seus braços executores – passaram a se sentir mais a gosto, pois disfrutam de sua impunidade”.
O Pará tem um histórico cruel e sistemático de violência. Os massacres de Eldorado do Carajás e de Pau D’Arco comprovam isto.
De acordo com o relatório anual Conflitos no Campo Brasil 2017 divulgado em 4 de junho pela CPT, o número de vítimas trabalhadores e trabalhadoras rurais, agricultores(as) familiares, camponeses, indígenas e quilombolas nos conflitos no campo aumentou.
O registro de mortos como consequência destes conflitos cresceu 16,4 por cento, em relação ao ano anterior: 61 pessoas foram assassinadas em 2016; em 2017 foram 71 pessoas.
Pará e Rondônia, que registram 22 e 17 mortes respectivamente, lideram a lista dos estados do Brasil mais violentos. Juntos, ambos os estados concentram mais da metade dos assassinatos.