20140113 sindicatos

    • Versión Español

Fri26072024

actualizado al04:35:02 PM GMT

Back sindicatos A FIFA que coma os hambúrgueres
A FIFA que coma os hambúrgueres
Em Buenos Aires, Gustavo Veiga
Brasil
MCDONALD'S
Sindicatos pedem a exclusão da McDonald´s da Copa do Mundo 2014
A FIFA que coma os hambúrgueres
20140611 fifa-610-por
Imagem: Rel-UITA
Sindicatos brasileiros enviaram carta ao presidente da FIFA, Joseph Blatter, pedindo a exclusão da McDonald’s como patrocinadora da Copa do Mundo 2014. Acusam a transnacional de explorar os trabalhadores. Até agora, a FIFA não se pronunciou sobre o pedido feito.
A organização para a Copa do Mundo 2014 sacode consciências e abre debates no Brasil com a força de uma motosserra. O ruído já se espalhou fronteira afora e, desta vez, o motivo foi o pedido feito por vários sindicatos à FIFA, em uma carta aberta, para excluir a McDonald´s da lista de patrocinadores do torneio.
 
Acusam a empresa de comida rápida “pela escassa salubridade de muitos dos alimentos do seu cardápio e, também, por explorar, maltratar e discriminar seus trabalhadores e trabalhadoras”.
 
Na busca por um “trabalho decente”
 
A denúncia foi conhecida no momento em que o país continua a discussão sobre as condições de trabalho que imperarão entre os dias 12 de junho e 13 de julho, enquanto durar a Copa. O governo prega, às custas de um slogan do futebol: “trabalho decente, o melhor gol do Brasil”.
 
É tal a preocupação com a questão, que a Secretaria Geral da Presidência realizou um seminário chamado “Compromisso para aperfeiçoar as condições de trabalho durante a Copa”.  
 
Gilberto Carvalho, ministro chefe do governo da Dilma Rousseff, fez a inauguração, dizendo que esse campeonato “está ajudando a economia e a geração de empregos”, e destacou uma preocupação: “Não queremos trabalhadores sem registro, na informalidade, nem queremos as nossas crianças e adolescentes explorados sexualmente”.
  
A Confederação dos Trabalhadores de Turismo e Hospitalidade (CONTRATUH), a União Internacional dos Trabalhadores da Alimentação e Agricultura (UITA), a Nova Central Sindical dos Trabalhadores (NCST), o Movimento de Justiça e Direitos Humanos (MJDH), a Associação Latino-Americana de Advogados (ALAL), e o Centro Humanitário de Apoio à Mulher (Chame) são as organizações que assinaram a carta aberta enviada a Joseph Blatter, denominada “FIFA patrocinada com trabalho indecente”.
  
Práticas ilegais
 
No Brasil, a rede de fast food tem entre 40 a 42 mil trabalhadores contratados por sua operadora, a Arcos Dourados. É a maior da América Latina e a franquia mais importante da marca no mundo. Também está presente na Argentina, com algo como 12 mil funcionários.
 
Na carta, os denunciantes expressam seu “repúdio pela escolha da McDonald´s como patrocinadora oficial da Copa do Mundo FIFA Brasil 2014” e requerem “a exclusão da referida empresa do papel de patrocinadora da Copa do Mundo, em virtude de suas práticas contrárias ao Código de Ética e aos diversos textos enunciados por esta Federação”. Ou seja, colocam em contradição a transnacional do futebol, porque questionam a rede apoiando-se nas normas da FIFA.
 
Os assinantes da carta lembram a Blatter e a seu comitê executivo que devem assumir “a grande responsabilidade de velar pela integridade e pela reputação do futebol no muito inteiro”.   
Também fazem questão de lembrar que, para proteger sua imagem, precisa evitar as “condutas e práticas ilegais, imorais ou contrárias aos princípios éticos reguladores e que poderiam manchar ou prejudicar essa imagem”. Os assinantes jogam na cara dos próprios dirigentes da Copa do Mundo 2014 o que “o Código de Ética da FIFA” diz.
 
Traduzida para o inglês, espanhol e francês, a carta foi enviada à Organização Internacional do Trabalho (OIT), ao Ministério do Trabalho do Brasil, e à Anistia Internacional. A McDonalds possui antecedentes no país de práticas antissindicais.
 
Trabalho infantil e discriminação sindical
 
Condenada pela Justiça do Trabalho do Brasil, a McDonalds foi obrigada a pagar 7,5 milhões de reais no estado de Pernambuco “por danos morais coletivos aos trabalhadores brasileiros”.
  
Em Curitiba, o Ministério Público do Trabalho do Estado do Paraná pediu à Justiça, em março passado, que condene a Arcos Dorados a pagar 10 milhões de reais por contratar menores de idade em “Atividades de risco para a saúde”. Essa prática viola a Constituição Federal. A ação judicial contra a operadora da rede foi apresentada em setembro de 2013 pela procuradora regional do Trabalho, Margaret Matos de Carvalho.
 
Gerardo Iglesias, secretário regional da UITA, justificou que sua associação assinou a carta porque “a discriminação sindical é emblemática. A FIFA fala de discriminação racial e a McDonald’s faz discriminação sindical. Houve manifestações em mais de quarenta cidades do mundo em maio deste ano, com os trabalhadores denunciando a precariedade no trabalho, os baixos salários e uma falta de espaço para a negociação política”.
 
A empresa foi acusada judicialmente de contratar menores de 14 anos no estado do Paraná, e por colocá-los para trabalhar “junto ao fogo, à gordura fervente e em contato com produtos químicos”, conforme publicaram os meios de comunicação brasileiros.  
 
Em sua resposta à carta enviada a Blatter, a McDonald’s informou que recebeu a denúncia com uma “mistura de surpresa e repúdio”. Assinalou, também, que “rejeita a tentativa das autoridades para induzir a FIFA e a opinião pública a acreditarem que há más condições de trabalho em nossa rede, ou que os produtos oferecidos sejam de má qualidade”.
 
Em outra parte de sua resposta, explicou que “todos os funcionários são registrados de acordo com a lei e remunerados de acordo com os convênios coletivos propostos pelos sindicatos; e recebem comida e benefícios como atendimento médico e odontológico”.  
 
A FIFA se cala
 
Quando se conheceu a posição da empresa, a carta já era pública e havia chegado à FIFA. As organizações que a redigiram, antes leram em detalhes o Código de Ética da Federação.
 
Uma espécie de manual de papelão pintado, no qual se basearam para colocar a própria FIFA em contradição. “O futebol já não é considerado simplesmente um esporte global, mas uma força unificadora cujas virtudes podem contribuir consideravelmente para a sociedade”, lembraram a Blatter.
 
Até agora a FIFA não se pronunciou sobre a sua patrocinadora, a famosa rede de fast food que sorteia viagens para a Copa entre as crianças de vários países da América Latina, os mesmos que, quando chegarem a adolescentes, serão contratados pela própria empresa em condições questionadas nos cinco continentes.
  
Página 12
11 de junho de 2014

Publicado na Página 12 de Buenos Aires
Tradução: Luciana Gaffrée

 

Share |