Com Valter Gildo Da Silva
Ambev na contramão
Trabalhadores da fábrica de Jacareí declaram estado de greve
O desacordo com o plano de Participação nos Lucros e Resultados (PLR) da Ambev, e a negativa da companhia em se sentar para negociar com os trabalhadores fez com que, no dia 24 de março, segunda-feira passada, os trabalhadores da cervejeira declarassem estado de greve em sua unidade fabril de Jacareí.
Em diálogo com A Rel, Valter Gildo da Silva, coordenador da Secretaria de Imprensa do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria da Alimentação de São José dos Campos e Região, que representa os operários da Ambev, informou que há alguns anos vem lutando pela mesma questão.
“Esta é uma contraofensiva da empresa, que há anos vem na contramão da legislação trabalhista do país, impondo suas próprias políticas transnacionais como o sistema de Banco de Horas e o denominado Programa de Excelência Fabril (PEF), que vem a ser a PLR (Participação de Lucros e Resultados) da Ambev”, explica Valter.
De acordo com o dirigente, além de deixar os trabalhadores fora da discussão sobre a PLR, a empresa cervejeira estava incorrendo em uma irregularidade em relação ao Banco de Horas porque, na fábrica de Jacareí, não havia nenhum tipo de acordo assinado pelos trabalhadores que avalizasse o sistema.
“Fizemos a denúncia correspondente na Justiça Trabalhista para que a Ambev acabe com este sistema na fábrica o antes possível”, afirmou Valter.
A companhia tem o costume de pressionar seus trabalhadores para que aceitem ambos os programas e esta não é uma prática que acontece apenas em Jacareí, sendo quase comum no resto das fábricas da empresa no estado de São Paulo.
“Por outro lado, acrescenta Valter, a Ambev não aceita que seus funcionários façam valer o seu direito constitucional de greve.
Em ocasiões anteriores, quando tivemos que paralisar as atividades, a direção da empresa enviou seus executivos para buscar os trabalhadores em suas casas e, como tínhamos bloqueada a entrada da fábrica, contratavam helicópteros para transportar os trabalhadores até dentro dela”, relatou.
Um absurdo
Consultado sobre as medidas que tomarão desta vez, o dirigente manifestou que estão buscando junto à CNTA uma forma para que a companhia não possa burlar a greve a tempo de aceitar se reunir com o Sindicato e negociar uma verdadeira PLR e não a que estão oferecendo, sujeita a uma absurda série de condições que só desfavorecem os trabalhadores.
Se ficar doente, não recebe...
“Para que tenham uma ideia, entre as condições impostas para o recebimento da PLR, a empresa diz que se um trabalhador sofrer um acidente ou ficar doente não cumprirá com a meta de excelência e, portanto, não recebe; se por acaso ocorrer um acidente fatal em alguma das fábricas, todos os trabalhadores serão punidos e não receberão a PLR, se fizerem greve também não receberão essa participação, em resumo: é um absurdo”.
A fábrica da localidade de Jacareí emprega, entre fixos e terceirizados, uns 3.000 trabalhadores que produzem 1,2 milhão de hectolitros de cerveja por mês.
A produção, em sua maioria, é destinada à exportação através das marcas Budweiser, Stella Artois, Quilmes e a recente Corona, entre outras.
“A ideia é coordenar ações com o resto dos sindicatos da região para fortalecer as medidas de luta e estar melhor preparados para a hora de enfrentar esta empresa transnacional e seus abusos comuns”, concluiu Valter.