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Enchem a gente de dendê e nos deixam sem comer
Em La Ceiba,
Honduras
    DENDÊ | SOBERANIA ALIMENTAR
    Enchem a gente de dendê
    e nos deixam sem comer
    Cresce em Honduras o debate sobre
    os impactos da expansão da plantação de dendê
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    Foto: Giorgio Trucchi
    Durante as últimas décadas, Honduras vem vivendo um acelerado processo de expansão da cultura do dendê, o que tem deixado profundos impactos socioambientais na população negra, indígena e camponesa, gravemente afetadas em seu legítimo direito à terra, à alimentação, a uma vida digna, somando-se a isto uma profunda criminalização da sua luta de resistência.
    A necessidade de analisar, debater a fundo e buscar estratégias comuns para enfrentar um modelo de produção que se apropria de territórios, deslocando comunidades, tem sido uns dos objetivos principais do Fórum-Oficina “Agrocombustíveis, Dendê e seus efeitos na soberania alimentar”, realizado em 9 de setembro de 2014, na cidade de La Ceiba.
     
    A atividade, que envolveu mais de 170 pessoas e dezenas de movimentos e organizações sociais, populares e sindicais, entre elas a Rel-UITA, foi convocada pela Organização Fraternal Negra de Honduras (OFRANEH), pela Plataforma de Movimentos Sociais e Populares de Honduras, bem como pelas redes internacionais Aliança Biodiversidade, Amigos da Terra América Latina e Caribe (ATALC), a Rede Latino-Americana contra as monoculturas de árvores (RECOMA) e o Movimento Mundial pelas Florestas Tropicais (WRM)
     
     “Com esta expansão sem controle querem substituir os alimentos pelo dendê. Querem nos dar azeite de dendê e nos obrigar a importar alimentos. Estão nos condenando a uma fome sem precedentes. Por isso, era urgente nos reunirmos para analisar, debater e tomar decisões concretas” – foram as palavras da coordenadora da OFRANEH, Miriam Miranda.
     
    Winfridus Overbeek, coordenador da WRM, alertou sobre as falsas soluções que o grande capital agroexportador apresenta à opinião pública para justificar o injustificável, promovendo ao mesmo tempo a produção de agrocombustíveis.
     
     “Nunca em minha vida escutei uma comunidade dizer que tinha sido consultada antes de invadirem suas terras para plantarem dendê ou outro tipo de monocultura. É uma imposição que arrasta consigo a destruição da biodiversidade, o desmatamento, a perda de fontes de água, e a contaminação por agrotóxicos”.
     
     
    Mesmo assim – continuou Overbeek – a expansão desmedida da palma “agudiza as mudanças climáticas e leva a uma militarização dos territórios e a criminalização da luta. A única solução possível é uma mudança de modelo”.
      
    Palma neocolonialista
    Um exemplo de racismo ambiental
     
    Marcela Gómez, de Amigos da Terra Colombia, aprofundou-se mais na sua análise e garantiu que a expansão do dendê e a consolidação do modelo dos agronegócios atentam contra a própria vida das pessoas.
     
    Neste sentido, os casos dramáticos das famílias camponesas do Baixo Aguán, das comunidades garífunas do litoral caribenho e do povo indígena Lenca, são um exemplo dos abusos e das vexações perpetradas pelo grande capital nacional e transnacional, com o beneplácito das autoridades.
     
     “O dendê não representa nenhum bem-estar para os povos, nem mesmo gera desenvolvimento econômico para as maiorias. Ao contrário, é uma forma de neoescravidão e de racismo ambiental, onde os principais afetados são sempre os povos negros, os indígenas e os camponeses”, disse Gómez.
     
    Atualmente, a monocultura de dendê em Honduras se estende por uma área de aproximadamente 160 mil hectares, e há novos projetos para duplicar esta quantidade, ameaçando os territórios de La Mosquitia.
    Enquanto isto, estima-se que pelo menos 300 mil famílias camponesas hondurenhas não tenham acesso à terra, que a metade de população rural sobreviva com menos de 1 dólar por dia, e que o país continue sofrendo um forte déficit na (de?) produção de alimentos.
     
    Estratégias comuns de luta
    Fortalecer alianças
     
    Após a conclusão das diferentes exposições, foram organizadas mesas de trabalho nas quais os participantes se envolveram em um profundo e enriquecedor debate, gerando posições claras de dar prosseguimento ao tema da expansão do dendê.
     
    “Devemos nos unir e criar alianças, tanto nacionais como internacionais, abordando estratégias que vinculem mais, e com maior força, os inúmeros exemplos de resistência a este modelo existentes no continente”, enfatizou Alfredo López, subcoordenador da OFRANEH.
     
    Finalizando a atividade, os representantes das redes internacionais, que durante dois dias analisaram em profundidade a temática da expansão do modelo agroexportador na América Latina, fizeram um pronunciamento de solidariedade ao povo hondurenho em luta, ao mesmo tempo exigindo o fim da repressão e da inércia das instituições.
     
     “Tanto na atividade de hoje como na reunião interna das redes internacionais, ambas contando com a participação da Rel-UITA, ficou evidente a necessidade de continuar com a articulação entre movimentos”, disse Lizzie Díaz, integrante do Secretariado Internacional do WRM.
     
    O segredo do sucesso destas lutas “está nos seus povos”, que enfrentam diariamente os grandes grupos econômicos nacionais e as corporações internacionais, que abocanham terras, expulsam e destroem comunidades inteiras.
     
    Hoje, mais do que nunca, devemos fortalecer estas lutas, fazendo-os sentir que não estão sós, que há milhares de pessoas observando o que está acontecendo”, concluiu.  
     
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    Foto: Giorgio Trucchi
     

    Rel-UITA
    12 de setembro de 2014

    Tradução: Luciana Gaffrée

     

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