Em Bogotá,
Com Jorge Chullén
A vertiginosa expansão
do dendê
do dendê
Efeitos devastadores de um modelo produtivo baseado nas monoculturas em grande escala
Foto: Giorgio Trucchi
O avanço exponencial da plantação de dendê no mundo está gerando graves problemas, afetando tanto as populações e comunidades, como a diversidade biológica do planeta. A troca de experiências e a busca por caminhos e por estratégias comuns caracterizaram a Conferência Mundial do Setor do Dendê, organizada pela UITA nos dias 12 e 13 de março passado, em Bogotá.
A produção mundial de dendê vem aumentando rapidamente nas últimas décadas, passando de 2 milhões de toneladas métricas em 1960 para quase 60 milhões no ciclo 2013-2014.
O Banco Mundial estima para 2020 o dobro dessa quantidade.
De acordo com a FAO, a Ásia é a principal fornecedora de dendê, já que a Indonésia e a Malásia controlam quase 83% da produção mundial.
Na última década (2000-2011), a Ásia registrou um crescimento de 126 por cento em sua produção, as Américas um crescimento de 95 por cento, o Caribe de 70 por cento, enquanto a África aumentou 43 por cento.
A Colômbia encabeça a produção latino-americana, seguida por Honduras, Equador, Brasil, Guatemala e Costa Rica.
Estes seis países representam 90 por cento da produção total da região. Em 2012, a Colômbia foi o quinto maior produtor mundial de dendê, e Honduras o nono.
A Índia, a China e a União Europeia são os três principais importadores e representam quase 51 por cento do total das importações do mundo.
Atualmente, 80 por cento do uso do dendê no mundo é em produtos comestíveis, 15 por cento vão para os cuidados da pele e os 5% restantes vão para o agrodiesel.
Wilmar, Sime Darby, IOI Corporation, Kuala Lumpur Kepong e Golden Agri são as maiores empresas produtoras de dendê no mundo. A Unilever, a Nestlé e a Danone são as principais usuárias finais deste produto.
Concentração do lucro
Distribuição dos impactos sociais e no meio ambiente
A expansão vertiginosa da monocultura do dendê no mundo está criando sérios problemas sociais e no meio ambiente. Jorge Chullén, coordenador do setor Açúcar e Dendê da UITA, compartilhou com A Rel a análise e os planos futuros da Internacional.
-Qual é a situação da expansão do dendê no mundo?
-O dendê é uma cultura que se expandiu de maneira exponencial nas últimas décadas, não apenas devido à enorme variedade de usos, mas também pela eficiência que o produto apresenta, tanto para o consumo humano, como para o seu uso industrial ou para a produção de agrodiesel.
Ao mesmo tempo, há um processo econômico muito acelerado, de maneira especial nos países asiáticos, como a Indonésia e a Malásia, visando a criar plantações gigantescas que aproveitam as condições climáticas e econômicas, permitindo capturar uma porção muito significativa do mercado mundial.
Por outro lado, há vários países, como Honduras e Guatemala, além de vários do continente africano, que sofrem elevados níveis de pobreza, e de pobreza extrema, cujos governos entraram na discussão de como crescerem economicamente.
Eles veem a expansão do dendê como uma possível saída, e estão dispostos a oferecer certas facilidades e a fechar os olhos para os efeitos nefastos gerados por essa produção, desde que possam apresentar esta monocultura como um modelo de desenvolvimento econômico e sustentável, o que claramente não é.
-Quais são os efeitos ocasionados pelo dendê?
-Tanto o dendê como a cana-de-açúcar são plantações que requerem grandes volumes e extensões para poderem ser rentáveis economicamente.
Esta situação implica uma acelerada e descontrolada reestruturação do modelo agrário, que desemboca na expansão de um modelo de produção baseado nas monoculturas em grande escala, gerando graves impactos sociais e no meio ambiente.
O desmatamento e a destruição das florestas, a falta de acesso à terra e o deslocamento forçado das comunidades e de populações inteiras, a perda de soberania e da segurança alimentar, assim como a grave contaminação devido ao uso de agrotóxicos, a perda acelerada da biodiversidade e o agravamento dos efeitos do aquecimento global, são só alguns dos efeitos que estamos vivendo.
Além disso, a penetração do dendê está relacionada com a violação generalizada dos direitos humanos, incluindo os direitos trabalhistas e sindicais.
Contrariamente ao que dizem os produtores de dendê, esta cultura não só não gera uma grande quantidade de postos de trabalho, mas também incentiva o trabalho precário, terceirizado, sem direitos e com salários de miséria.
Os casos emblemáticos da Colômbia e de Honduras, onde há um envolvimento direto de corpos armados, públicos e privados, defendendo os interesses dos grandes produtores de dendê, e da África, onde comunidades e populações inteiras são deslocadas de seus territórios, perdendo até o seu direito ancestral ao uso da terra, nos obrigam a buscar estratégias compartilhadas para frear este fenômeno.
-Quais serão essas estratégias?
-A Conferência Mundial contou com a presença de organizações filiadas e amigas que vêm de quase todos os continentes, e nos abre novas perspectivas e nos oferece autênticas oportunidades.
Identificamos muitos aspectos e elementos comuns. Também pudemos trocar informações, visões, opiniões, e experiências que serão muito valiosas para articular a nossa ação futura.
O Banco Mundial estima para 2020 o dobro dessa quantidade.
De acordo com a FAO, a Ásia é a principal fornecedora de dendê, já que a Indonésia e a Malásia controlam quase 83% da produção mundial.
Na última década (2000-2011), a Ásia registrou um crescimento de 126 por cento em sua produção, as Américas um crescimento de 95 por cento, o Caribe de 70 por cento, enquanto a África aumentou 43 por cento.
A Colômbia encabeça a produção latino-americana, seguida por Honduras, Equador, Brasil, Guatemala e Costa Rica.
Estes seis países representam 90 por cento da produção total da região. Em 2012, a Colômbia foi o quinto maior produtor mundial de dendê, e Honduras o nono.
A Índia, a China e a União Europeia são os três principais importadores e representam quase 51 por cento do total das importações do mundo.
Atualmente, 80 por cento do uso do dendê no mundo é em produtos comestíveis, 15 por cento vão para os cuidados da pele e os 5% restantes vão para o agrodiesel.
Wilmar, Sime Darby, IOI Corporation, Kuala Lumpur Kepong e Golden Agri são as maiores empresas produtoras de dendê no mundo. A Unilever, a Nestlé e a Danone são as principais usuárias finais deste produto.
Concentração do lucro
Distribuição dos impactos sociais e no meio ambiente
A expansão vertiginosa da monocultura do dendê no mundo está criando sérios problemas sociais e no meio ambiente. Jorge Chullén, coordenador do setor Açúcar e Dendê da UITA, compartilhou com A Rel a análise e os planos futuros da Internacional.
-Qual é a situação da expansão do dendê no mundo?
-O dendê é uma cultura que se expandiu de maneira exponencial nas últimas décadas, não apenas devido à enorme variedade de usos, mas também pela eficiência que o produto apresenta, tanto para o consumo humano, como para o seu uso industrial ou para a produção de agrodiesel.
Ao mesmo tempo, há um processo econômico muito acelerado, de maneira especial nos países asiáticos, como a Indonésia e a Malásia, visando a criar plantações gigantescas que aproveitam as condições climáticas e econômicas, permitindo capturar uma porção muito significativa do mercado mundial.
Por outro lado, há vários países, como Honduras e Guatemala, além de vários do continente africano, que sofrem elevados níveis de pobreza, e de pobreza extrema, cujos governos entraram na discussão de como crescerem economicamente.
Eles veem a expansão do dendê como uma possível saída, e estão dispostos a oferecer certas facilidades e a fechar os olhos para os efeitos nefastos gerados por essa produção, desde que possam apresentar esta monocultura como um modelo de desenvolvimento econômico e sustentável, o que claramente não é.
-Quais são os efeitos ocasionados pelo dendê?
-Tanto o dendê como a cana-de-açúcar são plantações que requerem grandes volumes e extensões para poderem ser rentáveis economicamente.
Esta situação implica uma acelerada e descontrolada reestruturação do modelo agrário, que desemboca na expansão de um modelo de produção baseado nas monoculturas em grande escala, gerando graves impactos sociais e no meio ambiente.
O desmatamento e a destruição das florestas, a falta de acesso à terra e o deslocamento forçado das comunidades e de populações inteiras, a perda de soberania e da segurança alimentar, assim como a grave contaminação devido ao uso de agrotóxicos, a perda acelerada da biodiversidade e o agravamento dos efeitos do aquecimento global, são só alguns dos efeitos que estamos vivendo.
Além disso, a penetração do dendê está relacionada com a violação generalizada dos direitos humanos, incluindo os direitos trabalhistas e sindicais.
Contrariamente ao que dizem os produtores de dendê, esta cultura não só não gera uma grande quantidade de postos de trabalho, mas também incentiva o trabalho precário, terceirizado, sem direitos e com salários de miséria.
Os casos emblemáticos da Colômbia e de Honduras, onde há um envolvimento direto de corpos armados, públicos e privados, defendendo os interesses dos grandes produtores de dendê, e da África, onde comunidades e populações inteiras são deslocadas de seus territórios, perdendo até o seu direito ancestral ao uso da terra, nos obrigam a buscar estratégias compartilhadas para frear este fenômeno.
-Quais serão essas estratégias?
-A Conferência Mundial contou com a presença de organizações filiadas e amigas que vêm de quase todos os continentes, e nos abre novas perspectivas e nos oferece autênticas oportunidades.
Identificamos muitos aspectos e elementos comuns. Também pudemos trocar informações, visões, opiniões, e experiências que serão muito valiosas para articular a nossa ação futura.
Rel-UITA
27 de março de 2015
Tradução Luciana Gaffrée