20140516 mcdonalds jornada 2014

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Quando o trabalhador vale menos que um Big Mac
Maíra Streit
Brasil
MCDONALD’S
Quando o trabalhador vale menos que um Big Mac
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Foto: Portal Fórum
Esqueça as propagandas com funcionários sorridentes, cantarolando alegres o jingle da mais famosa rede de fast food do mundo. No apagar das luzes, o cenário é bem menos glamoroso: jornadas excessivas, queimaduras frequentes, insalubridade, acúmulo de função e direitos básicos negados; entenda o que há por trás do McLanche Feliz.

O dia a dia dos 1,7 milhão de trabalhadores do McDonald’s está atualmente em debate em vários países, com duras críticas à empresa.

Entre as principais queixas, está a ausência de equipamentos e procedimentos para evitar acidentes de trabalho – em especial, as frequentes queimaduras na pele –, além da falta de pagamento adicional por acúmulo de função e insalubridade.

A não concessão de pausas na jornada ou folgas e a proibição de se comer alimentos fabricados fora da rede também já foram motivos de processos na Justiça.

É comum que essas pessoas sejam pressionadas a trabalhar muito rápido em ambientes perigosos, perto de chapas e óleo quentes. Elas são submetidas a calor excessivo na cozinha e baixas temperaturas na câmara fria, e ainda lidam com produtos químicos, lixo e dejetos humanos nas atividades de limpeza. Muitas vezes, faltam kits básicos de primeiros socorros e os atendentes são obrigados a cumprirem suas funções, mesmo machucados.

Pensando em garantir condições melhores a esses trabalhadores, uma mobilização global foi marcada para o dia 15 de abril em 35 dos 119 países onde a companhia atua. Ao todo, cerca de 200 cidades irão participar. No Brasil, já foram confirmadas manifestações em locais como São Paulo, Brasília, Goiânia e Salvador.

Para o presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Turismo e Hospitalidade (Contratuh), Moacyr Roberto Tesch Auersvald, é preciso intensificar a pressão para que o McDonald’s passe a respeitar as regras trabalhistas brasileiras.

É um dos maiores empregadores do Brasil, mas resolve atropelar as nossas leis. Queremos que, enquanto não cumpram nossa legislação, eles fiquem suspensos de abrir novas lojas. É um trabalho indecente, semi-escravo”, enfatiza.

Auersvald alerta que o pagamento dos empregados também é polêmico. “Eles dão uma manipulada no holerite dos funcionários. Jogam valores para cima, fazem descontos e, na forma como colocam, o próprio juiz exige que sejam mais claros. É impraticável entender a matemática que eles fazem”, denuncia.

As centrais sindicais classificam a atitude da rede como dumping social, quando o desrespeito às leis causa prejuízo direto aos trabalhadores e gera danos às demais empresas do setor, uma vez que a concorrência desleal dos preços viria de uma exploração social indevida.

O não pagamento de encargos e obrigações trabalhistas seria o responsável por abrir uma vantagem competitiva, reduzir custos e, assim, prejudicar as empresas que seguem corretamente as leis.

O presidente da Contratuh lembra ainda que a preferência pela contratação de gente jovem, que muitas vezes tem ali o seu primeiro emprego, pode ser uma armadilha para submeter esses funcionários inexperientes a situações que outros não aceitariam.

E, atraídos pela oportunidade de iniciar a vida profissional, acabam tendo seus direitos básicos negados. “Pegam menores aprendizes e colocam para trabalhar em condições insalubres. Não é atividade para menores”, destaca.

No Brasil, são aproximadamente 50 mil funcionários na Rede McDonald’s, segundo dados oficiais da empresa, que está presente no país desde 1979 e há oito anos é representada pela Arcos Dourados, máster franqueada em toda a América Latina.

No entanto, o que eles não contam é que, somente em território brasileiro, de 2012 a 2014, foram quase 400 ações contra o McDonald’s ajuizadas na Justiça do Trabalho nas principais cidades, de Norte a Sul.

A página Sem Direitos Não é Legal foi criada justamente com o objetivo de dar visibilidade a esses casos. “Não cuidar de funcionários que se queimam: NÃO É LEGAL! Não pagar adicional de insalubridade: NÃO É LEGAL! Ser contratado para uma função e exercer outra: NÃO É LEGAL!”, afirma texto do Facebook da campanha, que incentiva a mobilização global que ocorrerá no próximo dia 15.

A iniciativa busca também dar voz a pessoas que já passaram por essas situações para que possam dar seus relatos, como é o caso da ex-funcionária Mônica Carolina.

“Eu fazia jornadas excessivas de trabalho. Meu período era de seis e eu trabalhava dez horas seguidas não remuneradas. Entrava em áreas restritas para menores de idade, como as câmaras frias, e manuseava objetos de risco”, conta.

Condições parecidas vivia Caio Cesar, de 22 anos. “Caí com os dois braços em cima da chapa e tive queimaduras de 1º e 2º graus. O gerente chamou a minha mãe para ela me levar ao hospital. Não quis me acompanhar. Isso não é emprego. É escravidão”, afirmou.

Pelo jeito, melhor parar de acreditarmos no que vemos na TV.

 
Portal Fórum
6 de abril de 2015
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