Os 12 milhões de metros cúbicos de lama com resíduos de mineração (equivalentes a 4.800 piscinas olímpicas) destruíram a região e exterminaram as principais atividades da comunidade: pesca e agricultura.
Um ano depois, com quase nenhum alarde da grande mídia, apenas alguns se lembraram da trágica data.
O cenário atual em Brumadinho é desolador.
O agricultor familiar Israel Nunes Barbosa disse ao portal da Contag que não só sua propriedade foi completamente destruída pela lama tóxica, mas também está totalmente endividado.
“Tínhamos retirado um crédito rural no banco para investir na nossa produção e agora não temos nada, nem mesmo condições para recomeçar. Nossos sonhos foram enterrados na lama”, lamenta.
Conforme noticiado pelo jornal uruguaio La Diaria, no final de janeiro deste ano o Ministério Público de Minas Gerais apresentou uma denúncia penal por vários delitos contra a mineradora Vale e a empresa alemã Tüv Süd, responsável pela emissão de certificações de segurança para as instalações da Vale em Brumadinho. Foram acusados de homicídio 16 gerentes: 11 da Vale e cinco da empresa alemã.
Tanto eles quanto as próprias empresas foram responsabilizados por diversos crimes ambientais, já que além das mortes e destruição de casas, o rompimento da barragem causou danos aos rios, matas e a outras comunidades da região. Apesar dessas denúncias, a Vale continua operando a todo vapor.
O pouco que a empresa ofereceu desde o rompimento da barragem foi porque a justiça a obrigou. No entanto, para os habitantes da área o dano é irreversível, porque não vislumbram um futuro, já que tudo está contaminado.
Soraia, outra agricultora familiar que falou com a Contag, conta que não vê chance de voltar a produzir em Brumadinho.
“Eu não vejo como voltar a plantar aqui. Nossa área de produção foi completamente afetada. O rio também foi contaminado e os poucos agricultores que ainda podem produzir algo enfrentam a rejeição dos consumidores, que não querem comprar nenhum produto plantado em Brumadinho por medo da contaminação", ressalta.
"É triste isso, porque antes as nossas verduras faziam a diferença no Mercado Central de Belo Horizonte."
Muitos moradores abandonaram a região e aqueles que permaneceram fazem malabarismos para sobreviver com o salário mínimo que a Vale foi obrigada a pagar como indenização até janeiro deste ano.
Entrevistado pelo jornal uruguaio Brecha, Seu Sebastião, um pescador idoso disse que eles não mataram apenas o rio e que não morreram apenas aqueles que foram soterrados pela lama.
"Eles mataram a todos nós", desabafa ao ver o rio de onde tirava seu sustento, agora completamente coberto de lama tóxica.
Junto com ele, outros 48 pescadores perderam sua fonte de trabalho e hoje mal sobrevivem.
Enquanto isso, a mineradora Vale SA já recuperou sua cotação na Bolsa de Valores e conseguiu oferecer aos seus acionistas dividendos vultosos que, no total, são maiores do que o US$ 1,55 bilhão que teve que pagar em indenizações.
No mundo do capitalismo selvagem e no Brasil de falsas certificações, para se obter mais lucro a equação se resume a considerar que a natureza e a vida não valem nada.