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A responsabilidade europeia na morte de brasileiros pelo uso de agrotóxicos

Venenos para a importação

Um relatório da Friends of the Earth Europe (FoEE) afirma que no Brasil a cada dois dias uma pessoa morre por contaminação por agrotóxicos e que as transnacionais agroquímicas europeias, líderes mundiais do setor, gastam milhões de euros para apoiar o lobby do agronegócio no Brasil.

Daniel Gatti

13 | 05 | 2022


Manifestação da CONTAG contra os agrotóxicos, em 2012| Foto: Gerardo Iglesias

Um quinto das vítimas dos venenos promovidos (incluindo produtos à base de glifosato) são crianças e adolescentes menores de 19 anos.

De acordo com o relatório, elaborado por esta ONG, as transnacionais como a Bayer e a Basf, «principais fabricantes europeus de agrotóxicos», se juntaram a grandes empresas agroquímicas brasileiras para terem acesso ao mercado do país continental da América do Sul.

Essas transnacionais se posicionam entre as mais efusivas promotoras do acordo de livre comércio negociado entre a UE e o Mercosul, pois lhes traria benefícios ainda maiores do que os que já possuem até o momento.

Com isso, «estão causando enormes danos à saúde das pessoas e ao meio ambiente no Brasil», apoiando também uma «agenda legislativa que afeta os direitos dos povos indígenas, enfraquece as salvaguardas ambientais e legitima o desmatamento», principalmente na Amazônia, diz o documento, publicado em 28 de abril de 2022.

Basf, Syngenta e Bayer destinaram pelo menos dois milhões de euros para apoiar o lobby do agronegócio no Brasil, com peso considerável no Congresso, por meio da chamada «bancada ruralista», e devido à forte receptividade do governo federal.

Uma evidência, entre tantas, deste trabalho em parceria entre transnacionais e empresas locais, é o fato de nas últimas duas décadas o uso de agrotóxicos no território brasileiro ter se multiplicado por seis.

Só em 2021, as autoridades do Poder Executivo de Jair Bolsonaro aprovaram a venda de quase 500 novos agrotóxicos. Destes, 45 são fabricados pela Basf e pela Bayer, e 19 contêm substâncias proibidas na UE.

Um TLC que piora as coisas

Audrey Changoe, especialista em comércio da Friends of the Earth Europe (FoEE) e coautora do estudo com a professora brasileira Larissa Bombardi, argumentou que a flexibilização das já poucas regulamentações sanitárias no Brasil darão à Bayer, líder neste mercado, «uma licença para envenenar a natureza e as comunidades rurais”.

Uma das consequências do tratado pensado entre a UE e o Mercosul seria uma maior importação pelos países sul-americanos de agrotóxicos que serão utilizados, por exemplo, nos campos de soja, uma cultura que segue em expansão nos quatro países que compõem o Bloco Sul-Americano (Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai).

Se o acordo for ratificado, as empresas agroquímicas da UE pagarão até 90% menos tarifas para exportar esses produtos para o Mercosul, alguns dos quais não podem ser comercializados na própria Europa.

«A União Europeia tem a responsabilidade de parar o comércio tóxico UE-Mercosul agora», disse Changoe.


(Com base em informações da Carta Capital)