Com Alcemir “Costela” Pradegan
Uma parceria sindical e a NR36
No ato de posse da direção do Sindicato da Alimentação de Serafina Corrêa, em 6 de abril, falamos com um velho amigo, Alcemir Pradegan, o popular “Costela”, presidente do Sindicato de Marau.
Gerardo Iglesias
24 | 4 | 2024
Alcemir “Costela” Pradegan | Foto: Jaqueline Leite
Costela teve um papel primordial na construção da NR36 —a norma que regula as condições de saúde e segurança na indústria frigorífica— e cultivou uma amizade extraordinária com Siderlei de Oliveira, a quem considera seu mestre e maior inspirador.
Disciplinado e orgânico na militância sindical, ele ostenta grande capacidade de improvisação ao dançar vanerão, incorporando ultimamente, entre volta e volta, uns saltos frenéticos como quem se depara com uma jararaca no caminho.
Uma das primeiras tribunas onde a Rel UITA e a CONTAC abordaram pública e massivamente o problema das Lesões por Esforço Repetitivo (LER), relacionado à indústria frigorífica, foi no 3º Fórum Social Mundial (Porto Alegre, Brasil, janeiro de 2003), quando foi lançado “Um mundo sem LER é possível”, o primeiro livro de Roberto Ruiz, como diretor do Departamento de Segurança e Saúde no Trabalho.
“Tenho bem presente na minha memória o dia no qual Siderlei, participando de uma assembleia em nosso Sindicato em Marau —lembra Costela— ficou surpreendido ao ver muitas colegas com bandagens nas mãos e nos braços. Quando lhes perguntaram o motivo, elas responderam que era devido ao trabalho extenuante e sem pausa que realizavam nos frigoríficos avícolas”.
“Não vou me esquecer da indignação de Siderlei, sua proximidade e o compromisso assumido na contribuição para acabar com tanto sofrimento devido ao ritmo frenético de trabalho no setor. “Tenho certeza de que naquela tarde a NR36 começou seu caminho”, afirma Costela.
No dia 30 de setembro de 2005, a CONTAC —presidida por Siderlei— e a Rel UITA realizaram o lançamento da Campanha Nacional Contra o Ritmo Frenético de Trabalho nos Frigoríficos, na sede do Sindicato da Alimentação de Passo Fundo, no Rio Grande do Sul.
No material distribuído, começava a se consolidar a imagem do frango levando um trabalhador em uma cadeira de rodas e a frase: “Não aguentou o ritmo”.
Em 17 de outubro de 2009, a sede do sindicato de Marau foi o ponto de referência do 1º Encontro Nacional de Trabalhadores de Avícolas (CONTAC - Rel UITA), com a participação de 25 sindicatos e quatro federações.Diversos relatórios e depoimentos de trabalhadores e trabalhadoras demonstraram as condições de trabalho massacrantes em ambientes carregados de estresse e pressão, o assédio constante exigindo maior produtividade, o combate sistemático ao "tempo morto", os baixos salários e a situação indefesa das pessoas diante do avassalamento das tarefas submetidas a metas insustentáveis.
No encontro em Marau, foi divulgado publicamente o projeto de lei promovido pela CONTAC sobre a redução da jornada de trabalho para 40 horas semanais, apresentado por Marcos Maia, vice-presidente da Câmara dos Deputados em Brasília.
Outra decisão tomada durante a atividade foi a necessidade de criar uma Coordenadora de Trabalhadores nos Frigoríficos do Mercosul. Esta foi fundada em 26 de outubro, um ano depois, nas instalações da Federação de Trabalhadores de Águas Gaseificadas (FATAGA), em General Rodríguez, Província de Buenos Aires.
Nesse momento, “os frangos de Siderlei” estavam por toda parte e três anos depois, um deles desfilou pelos corredores e pelo plenário do 26º Congresso da UITA em Genebra, na Suíça.
Entre essas cidades, há 50 quilômetros de distância e um histórico de lutas conjuntas dos sindicatos. Colonizadas por imigrantes, diz-se que as pessoas que lá vivem são italianas por fora ou por dentro.
“Com Serafina Corrêa, temos uma relação de parceria propiciada pela proximidade geográfica, uma mesma cultura, coincidências políticas e a promoção e defesa da NR36”, destaca Costela.
“Somos organizações parceiras. Há muitos anos de caminhos compartilhados com José Modelski, Geni Dalla Rosa e Siderlei. Tenho orgulho de dizer que somos sindicatos irmãos e que nossa história vai além dos papéis ou declarações, ela foi construída a partir do próprio coração da luta da classe trabalhadora”;.
No final da entrevista, Costela se uniu aos dançarinos, que percorriam toda a pista, dando grandes voltas com passos largos —como se estivessem pulando poças— e olhando com descaso, por cima do ombro, a quem tinha medo de ser atropelado.