Trabalhadores da Starbucks na luta para formar um sindicato
Não é nada fácil para os trabalhadores dos Estados Unidos, a “terra das liberdades”, quando querem se sindicalizar. O sindicato Starbucks Workers United, promovedor da sindicalização na rede de cafeterias, está numa luta de braço com a direção da transnacional, para poder formalizar o sindicato.
Daniel Gatti
20 | 12 | 2022
Foto: Gerardo Iglesias
Na segunda-feira, mais de mil funcionários das mais de cem cafeterias Starbucks iniciaram uma greve de três dias, a de maior duração na história desta empresa, fundada há meio século, em Seattle, e hoje presente no mundo inteiro.
É a segunda greve em um intervalo de 30 dias, pois a primeira foi em 18 de novembro, durando uma jornada de trabalho, também protagonizada por cerca de 2.000 funcionários da Starbucks em mais de 100 lojas nos EUA.
No final do ano passado, os funcionários de 260 lojas das 9 mil cafeterias da Starbucks presentes nos EUA votaram a favor da construção de um sindicato.
Mas querer não é poder. Como parte de sua campanha suja contra a sindicalização, a empresa fechou parte dessas lojas, incluindo a primeira das cafeterias Starbucks a decidir formar um sindicato, localizada nada mais nada menos que em Seatlle, cidade sede da transnacional.
A Starbucks também demitiu os sindicalistas.
A ofensiva patronal incluiu, obviamente, pressões sobre os funcionários, que receberam uma chuva de mensagens dizendo que iriam muito melhor no trabalho se estivessem contra a sindicalização.
“Se uma parte significativa de nossos funcionários se sindicalizar –disse no ano passado um diretor da empresa– nossos custos com os trabalhadores poderão aumentar e o nosso negócio se verá afetado negativamente devido a outros requisitos e expectativas, que podem mudar a cultura de nossos funcionários, diminuir a nossa flexibilidade e interromper o nosso negócio”.
Enquanto este homem formulava essa declaração, também se conhecia a informação de que durante a pandemia de Covid-19 o CEO da Starbucks tinha recebido um bônus de 20 milhões de dólares por ter mantido as lojas de sua empresa abertas, expondo os seus funcionários ao risco de adoecerem e de morrerem.
O sindicato Starbucks Workers United entrou até agora com 446 ações contra a empresa, em decorrência das demissões arbitrárias contra os “promovedores sindicais” e da negativa da direção de se sentar para negociar seriamente.
Uma das bases do Starbucks Workers United fica em Búfalo, uma exceção no deserto sindical que são os Estados Unidos.
Nesta grande cidade do estado de Nova Iorque, um quinto dos trabalhadores está sindicalizado, entretanto a média nacional não chega nem a 6,5 por cento. Aliás, no setor das cafeterias e dos restaurantes, a sindicalização não chega nem a 1 por cento, de acordo com os dados da Universidade de Cornell.
Dentro do mundo do trabalho desta região há uma forte tradição organizativa. Além disso, a “opinião pública nacional também está mudando sua percepção sobre os sindicatos”, afirma o relatório.
De acordo com uma pesquisa da Gallup, de agosto de 2021, em média sete de cada dez estado-unidenses apoiam a formação de sindicatos.
O fato de em 2021 ter ocorrido importantes greves, com grande presença de trabalhadores, especialmente de empresas do setor de serviços, é também um dado revelador de uma mudança de tendência, analisa Ruth Milkman, socióloga trabalhista da A Universidade da Cidade de New York (CUNY).
Algumas dessas grandes mobilizações ocorreram em empresas como a McDonald´s e a Kellogg´s.
Búfalo é o “reflexo do interesse crescente entre os jovens trabalhadores com a educação universitária na organização do trabalho”, disse Milkman, em declarações obtidas pelo jornal argentino Página 12.
“Os trabalhadores jovens estão atacando contra uma economia que só funciona para os ricos”, comentou, também no meio dessa onda de greves e paralisações por melhores condições de trabalho e a favor da organização sindical, o senador Bernie Sanders, um referente da ala mais à esquerda do Partido Democrata, hoje no poder.
Ainda assim, os trabalhadores e as trabalhadoras que quiserem se organizar sindicalmente terão um peso enorme em suas costas.
Há a legislação trabalhista contra os trabalhadores e principalmente o fato de estarem inseridos numa sociedade onde está profundamente arraigada a cultura do capitalismo selvagem e do individualismo extremo.
As grandes empresas não duvidam, aliás, em destinar enormes somas de dinheiro para evitar que os sindicatos sejam criados.
Só em 2021, destacou Milkman, em uma matéria publicada em maio passado pela revista latino-americana Nueva Sociedad, a transnacional Amazon dedicou 4,3 milhões de dólares para pagar “consultores antissindicais”, visando a contra-arrestar tentativas de sindicalização de um setor importante de seus trabalhadores.
O alto-comando da Starbucks também está empenhado nisso.
Foi possível ganhar a luta de braço com a patronal superpoderosa da Amazon, e em abril o Sindicato de Trabalhadores da Amazon finalmente viu a luz.