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30ª Marcha do Silêncio
Jair Krischke e um encontro acolhedor em Montevidéu

Uma história de memória e irmandade

Neste 19 de maio, na véspera da 30ª edição da Marcha do Silêncio, Jair Krischke, assessor de direitos humanos da Rel UITA e referência regional no tema, promoveu um encontro com as mães fundadoras do coletivo Madres y Familiares de Uruguayos Detenidos Desaparecidos.

Amalia Antúnez

20 | 5 | 2025


Horacio Goicoechea, Milka González, Jair Krischke e María Bellizzi | Foto: Amalia Antúnez

A reunião, organizada pela Rel, com o apoio fundamental de Nilo Patiño, do grupo Familiares, da Fundação Friedrich Ebert (FES), que cedeu o espaço, e também do coletivo Imágenes del Silencio, teve como principal objetivo recordar um fato pouco conhecido e entregar material documentado, recortes de jornais e fotografias sobre o episódio.

Em 1980, integrantes do Alto Comissariado das Nações Unidas que investigava violações de direitos humanos no Uruguai tentaram entrevistar familiares de desaparecidos políticos durante a ditadura, mas foram impedidos de entrar no país por ordem do então ditador Gregorio Álvarez.

Jair Krischke lembrou, ao lado de Milka González, uma das mães que esteve em Porto Alegre em 1980, e da centenária María Bellizzi, outra das mães, como o Movimento de Justiça e Direitos Humanos (MJDH) colheu os testemunhos dos familiares de desaparecidos uruguaios e encaminhou as denúncias à ONU.

O encontro contou com uma grata surpresa: a presença de Horacio Goicoechea, outro dos familiares de desaparecidos que participou da denúncia à ONU em Porto Alegre, em outubro de 1980.

Participaram do evento, além das duas mães fundadoras, familiares diretos de desaparecidos na última ditadura, como Elena Zaffaroni, Daniel Gatti, Karina Tassino, Nilo Patiño, entre outros.

As primeiras gotas

Foi um momento muito emocionante, pois os protagonistas relembraram como era difícil e arriscado realizar qualquer tipo de reunião – ainda mais uma destinada a denunciar prisões, torturas e desaparecimentos de perseguidos políticos.

Ao final do relato e da conversa com os presentes, Jair entregou ao grupo Familiares documentação sobre esses testemunhos, que foram, na época, materiais valiosos para denunciar as atrocidades cometidas pelos militares no Uruguai.

“Acredito que aquela denúncia foi a gota que começou a abrir a rachadura que pôs fim à ditadura quatro anos depois”, disse Krischke.

A Marcha e o novo governo

Na noite de hoje ocorre a 30ª Marcha do Silêncio, uma manifestação que desde 1996 homenageia e lembra as vítimas do terrorismo de Estado, ao mesmo tempo que exige dos repressores a verdade sobre os desaparecidos.

Assim como em 1980, Milka e María, duas das mães fundadoras que ainda estão vivas, continuam pedindo para saber onde estão seus familiares desaparecidos. E, infelizmente, seguem sem resposta.

Esperamos, como cidadãos, que o novo governo do progressista Yamandú Orsi ─que já vimos em outras Marchas─ dê a ordem para que os militares abram os arquivos da ditadura e que finalmente a verdade venha à tona.

Como dizia Luisa Cuesta, outra das emblemáticas "velhas": “Conhecer a verdade é a maior das justiças”.

Fotos: Amalia Antúnez e Martín Hernández