Com Andrea Coinu
O crescimento da “nova” direita na Europa parece imparável. Se fossem hoje as eleições para o Parlamento Europeu, seria muito provável que a direita conservadora se posicionasse como a segunda força política no velho continente.
Giorgio Trucchi
08 | 02 | 2023
Andrea Coinu | Foto: Gerardo Iglesias
Com poucas exceções, a ultradireita radical, com suas variantes xenofóbicas e racistas, já ocupa postos do governo e vem aumentando sensivelmente a sua base eleitoral na Europa.
Neste sentido, o perigo de uma deriva autoritária, somado a uma agudização do modelo neoliberal, a uma intensificação da precarização do trabalho e da erosão dos direitos fundamentais, vem sendo cada vez mais real.
É neste contexto que, em novembro do ano passado, durante a VII Conferência do Grupo Profissional de Trabalhadores da Agricultura da UITA (GPTA), falou-se da possibilidade de ser criada uma rede sindical internacional antifascista.
Naquela ocasião, Gerardo Iglesias, secretário regional para a América Latina da UITA, Alberto Broch, vice-presidente da CONTAG, e Andrea Coinu, vice-presidente da Federação Europeia de Sindicatos da Alimentação, Agricultura e Turismo (EFFAT), fizeram um chamamento para que se centre a atenção no crescimento global do fascismo.
“A democracia e os direitos sindicais são incompatíveis com o fascismo, sendo assim, é urgente que o movimento operário internacional construa uma campanha em grande escala para frear esta grande corrente que se infiltrou em todos os continentes”, disseram.
“Muitos trabalhadores, trabalhadoras e pessoas sindicalizadas estão votando em políticos da extrema-direita; portanto, nossa tarefa (...) deve ser gerar consciência sobre o que são o fascismo e a extrema direita, bem como quais são consequências nocivas para a classe trabalhadora do mundo inteiro”, alertaram os três dirigentes.
Em conversa com a Rel, Coinu foi mais fundo nesse assunto.
“Quando há uma mudança de paradigma econômico e de produção de energias, que arrasta consigo transformações profundas nas profissões e nos sistemas produtivos, sempre surgem e se propagam forças reacionárias”, disse.
“Frear o crescimento das diferentes caras da direita, que estão se convertendo em referência para as novas gerações e para uma grande quantidade de pessoas no mundo, passou a ser uma prioridade”.
Para o responsável pelas políticas internacionais da central italiana FLAI-CGIL, este avanço sempre gera um retrocesso, tanto nos níveis de liberdade democrática como nos direitos trabalhistas e na qualidade de vida dos trabalhadores e das trabalhadoras.
“Ese neofascismo, que se oculta detrás de los populismos, representa los principales intereses de las élites, de las clases dominantes y está totalmente sometido al actual modelo económico”.
“Esse neofascismo, que se oculta atrás dos populismos, representa os principais interesses das elites, das classes dominantes e está totalmente submetido ao atual modelo econômico”.
“É por isso que – continua Coinu – depois do ataque à sede nacional da CGIL, em Roma, decidimos trabalhar aceleradamente para a construção de uma rede sindical internacional antifascista”.
Pensar e criar uma rede integrada por várias entidades sindicais mundialmente, que tenha o antifascismo como fator mínimo múltiplo comum, é o que mais nos interessa.
“No dia 9 de março, a EFFAT e a UITA se reunirão em Amberes (Bélgica), para se pronunciarem publicamente sobre este projeto”, manifestou.
E é justamente nos momentos de maior crise quando há que investir mais na presença do sindicato junto aos trabalhadores às trabalhadoras.
“Um sindicalismo consciente de seu próprio papel, nesta fase histórica, um sindicalismo capacitado, um sindicalismo do povo, das trabalhadoras e dos trabalhadores”, destacou Coinu.
“Para fazer isso, precisamos de um importante esforço coletivo de inovação das práticas para registrar os novos rostos de um mundo do trabalho dramaticamente fragmentado e profundamente modificado”, concluiu.