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Um setor em crescente financeirização

O que pode significar a aquisição da participação acionária no fundo ativista Trian Partners na Unilever?

UITA


Foto: Difusão

Em 23 de janeiro, o jornal britânico Financial Times informou que o «hedge fund» do ativista Nelson Peltz, Trian Partners, adquiriria uma participação na Unilever.

Ocorreu depois da ampla cobertura da fracassada oferta da Unilever pela Glaxo Smith Kline e pela joint venture de cuidados de saúde para os consumidores da união transitória de empresas da Pfizer no início deste mês, uma oferta que encontrou forte resistência de investidores, analistas e da imprensa financeira, muitos dos quais estavam preocupados com os níveis de dívida que tal acordo geraria para a Unilever.

Segundo a imprensa financeira, a oferta já está abortada. Investidores e analistas também levantaram questões sobre o valor estratégico do acordo proposto e sobre ser, a partir de agora, possível confiar na direção da empresa para garantir «valor» aos acionistas da Unilever.

Esta oferta, juntamente com as recentes declarações da Unilever de que a direção estratégica está expandindo significativamente sua presença em saúde, beleza e higiene, também alimentou especulações sobre o futuro dos negócios de alimentos e bebidas da empresa.

A Trian Partners é conhecida por investir e depois exigir mudanças organizacionais, estruturais e de governança em empresas de alimentos e catering, principalmente para aumentar o preço das ações de uma empresa e depois vendê-las com lucro.

Não é a única a fazer isso. É simplesmente um caso emblemático da crescente financeirização dos setores de alimentos e bebidas nas últimas décadas.

Perspectiva de mudanças

Dos setores da UITA, a Trian Partners investiu, ao longo do tempo, em empresas como a Cadbury Schweppes, a Heinz, a Kraft Foods, a Mondelēz, a PepsiCo e a Danone.

Em cada caso, foram promovidas mudanças nas empresas em que investiu. Por exemplo, depois de adquirir uma importante participação na PepsiCo em 2012, a Trian tentou pressionar a transnacional a separar seu negócio de bebidas do negócio de salgadinhos por dar mais lucros.

Seu objetivo então era que a PepsiCo comprasse a Mondelēz, outro investimento da Trian, para se tornar a maior empresa de doces e salgadinhos do mundo.

A Trian finalmente recuou em suas suas demandas, em janeiro de 2015, quando a PepsiCo adicionou um parceiro operacional ao Conselho de Administração e CEO da empresa; A Trian então vendeu sua participação na PepsiCo em 2016, depois de obter um lucro de mais de US$ 500 milhões.

Portanto, o que podemos esperar da Unilever? Dado o histórico de Nelson Peltz, a Trian poderia conduzir certas mudanças organizacionais, estruturais e de liderança na Unilever, podendo vir a afetar os trabalhadores, as trabalhadoras e seus sindicatos.

1.500 demissões

Embora não necessariamente relacionado ao anúncio da participação de Trian na Unilever, em 25 de janeiro, a empresa anunciou uma reorganização de sua estrutura comercial em cinco grupos distintos: beleza e bem-estar, cuidados pessoais e domésticos, nutrição e sorvetes.

Também anunciou a demissão de 1.500 pessoas em cargos gerenciais em todo o mundo.

A Unilever afirmou que essas mudanças estruturais foram planejadas ao longo do ano passado.

Não podemos esperar nada além de mais mudanças na Unilever, pois a empresa está sob crescente pressão de investidores como a Trian Partners.

Há a necessidade de estarmos preparados e preparadas para reagir conforme for necessário.


Nota: Os fundos ativistas são “uma reserva de dinheiro administrada por uma equipe de administração para ganhar rentabilidade investindo ativamente em uma variedade de mercados, incluindo câmbio de divisas, commodities, derivativos, títulos, etc., geralmente de curto prazo, com frequência altamente alavancados.
Devido ao aumento dos riscos presentes nos investimentos não regulamentados, complexos e alavancados, os fundos ativistas normalmente são abertos apenas para investidores profissionais, institucionais ou credenciados de outra maneira…” (Guia dos Trabalhadores para operações de aquisição de Capital de Risco da UITA, p.12).