Brasil | ELEIÇÕES | ULTRADIREITA

Um segundo turno que exige esforços redobrados

“Em um país como o Brasil, manter
a esperança viva é em si um
ato revolucionário..
(Paulo Freire)

Se derrotar Jair Bolsonaro e os interesses que ele representa era o primeiro objetivo desta eleição, longe está de ter sido alcançado. O excesso de confiança na vitória no primeiro turno vivido pela militância do Partido dos Trabalhadores (PT) e seus aliados se transformou em ressaca eleitoral.

Gerardo Iglesias

05 | 10 | 2022


Imagem: Allan McDonald

No primeiro turno das eleições, o Bolsonaro -presidente de extrema-direita- ficou em segundo lugar, neste domingo, 2, atrás de Lula a uma distância muito menor do que a prevista nas pesquisas.

Por mais difícil que pareça (mais de 5 pontos e cerca de sete milhões de votos separam Luis Inácio Lula da Silva de Bolsonaro), não é impossível Bolsonaro virar o jogo e conseguir vencer no domingo, dia 30.

Ainda mais pela forma como ele usa indevidamente o dinheiro público para sua propaganda política e pela enorme capacidade de sua equipe, também conhecida como Gabinete do ódio, de lançar campanhas repugnantes e eficazmente mentirosas nas redes sociais.

Mesmo Bolsonaro perdendo no segundo turno, o bolsonarismo já obteve a sua grande vitória: consolidaram um apoio social muito sólido, traduzido no aumento do seu peso político no Congresso e num domínio territorial graças aos governadores que se ofereceram como aliados.

Em vez da merecida punição política, personagens particularmente sinistros da quadrilha bolsonarista foram eleitos sem nenhum problema no último domingo.

Nove dos 15 governadores eleitos neste fim de semana (os 12 restantes serão eleitos no domingo, dia 30) tiveram o apoio do presidente Bolsonaro.

Seu partido, o Partido Liberal (PL) já garantiu nestas eleições as maiores bancadas, tanto no Senado quanto na Câmara dos Deputados.

As forças da direita e da extrema direita unidas terão quase a metade do total de deputados, um avanço considerável em relação à atual bancada.

O panorama não é muito animador e, aliás, escondê-lo seria um suicídio para qualquer força que lute pela emancipação social.

Mas longe de nos derrotar, deveria nos convocar a redobrar a luta. Do lado de dentro do partido, será preciso apoiar animicamente a militância do PT e de seus aliados. Do lado de fora, a missão é atrair o maior número de votos daqueles 21 por cento do eleitorado (mais de 30 milhões de pessoas) que se abstiveram de votar no primeiro turno.

Jair Bolsonaro garante trabalho sem direitos; salários sem poder aquisitivo, mais fome e mais veneno nos alimentos. Sua reeleição fornece mais combustível para queimar toda a Amazônia e acabar com a vida de todos os seres vivos que lá se encontrarem.

Cada voto em Jair Bolsonaro dará à máquina do terror mais poder para perseguir a comunidade de gênero diverso e níveis mais altos de impunidade por feminicídio, entre outros horrores.

É hora de sairmos, de nos manifestarmos, de gastarmos mais sola de sapato do que bateria de celular, de conversarmos com as pessoas cara a cara, de convencermos os indecisos.

É hora de perdermos o medo, se não quisermos perder ainda mais a nossa dignidade e liberdade.