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Com Bruno Vida

Um país de homofóbicos

Dia 17 de maio, coincidindo com o Dia Internacional contra a Homofobia, a Transfobia e a Bifobia, começou a quarta edição do evento “Maio, mês da diversidade”, organizado pela prefeitura de Salvador, Bahia. Conversamos com Bruno Vida, coordenador do Centro Municipal de Referencia LGBTI, sobre as principais atividades programadas para até o dia 24 inclusive, e sobre o trabalho conjunto com a Rel UITA.

“As atividades começaram com a análise sobre as pessoas LGBTI na terceira idade. Essa questão foi debatida considerando várias perspectivas”, explicou Bruno.

“Buscamos analisar como a população LGBTI chega à velhice e em que condições. O fato é que em muitos casos não se respeita a identidade de gênero das pessoas LGBTI. Soma-se a isso a violência institucional contra elas”.

A oficina também contou com uma análise da evolução da vida das pessoas LGBTI, desde que se assumem, o que muitas vezes faz com que sejam expulsas de suas casas.

A maioria passa por situações muito penosas. Geralmente são pessoas discriminadas em seus próprios lares, e que terminam expulsas. Tais fatores as levam a abandonar os estudos, gerando baixa escolaridade. E assim, será bem mais difícil para elas conseguir um trabalho digno”, afirmou.

Abordar o envelhecimento dessas pessoas está diretamente vinculado ao desenrolar da vida delas, pois se trata de uma população muito vulnerável, que carece de direitos, vítima de perseguição e violência, não só social mas também institucional.

Bruno indicou que neste sentido o Centro de Referência LGBTI trabalha em parceria com o Sistema Único de Assistência Social (SUAS), um programa estadual que busca implementar políticas públicas que garantam condições de vida dignas às populações mais vulneráveis.

“O trabalho que desenvolvemos se materializa principalmente quando há pessoas LGBTI que precisam ter acesso a asilos públicos. Por não haver coincidência entre o nome de nascimento e a identidade de gênero da pessoa, o acesso é rechaçado.

Essas pessoas ficam, então, em uma posição bastante precaria. Ao terem que entrar nos asilos, usando a identidade biológica, passam a sofrer de depressão. Ou então, terminam nas ruas. Nós buscamos atacar a violência institucional ainda muito grande”, esclarece.

O Centro Municipal de Referência LGBTI da Bahia é um dos poucos que permanecem, fruto da iniciativa da administração de Dilma Rousseff.

Um oásis

“Uma instituição como o Centro de Referência é uma raridade bem-vinda, mantida unicamente com os fundos da prefeitura e com a boa vontade e trabalho dos gestores, entre eles o prefeito, um governante comprometido com a causa. Este é o único centro municipal do país”, destaca Bruno.

O centro oferece atendimento e acompanhamento para cerca de 4.000 pessoas.

Além de oferecer assistência, o governo de Salvador analisa um pacote de medidas para gerar políticas públicas específicas para a população LGBTI,  cobrindo educação, saúde, segurança cidadã e as demais áreas relativas à administração pública.

“Geramos um programa municipal de combate à LGBTIfobia e que busca erradicar a violência institucional presente nos organismos do Estado”.

“É mais que necessário educar os servidores públicos para o atendimento de pessoas LGBTI, porque também somos cidadãos e cidadãs, também pagamos impostos e, consequentemente, os salários dos funcionários da administração pública”, lembrou.

Parcerias

Consultado sobre a parceria de trabalho com a Rel UITA, Bruno destacou a importância deste tipo de ações.
Já tinha participado em atividades sindicais e nunca antes me encontrei com uma organização de trabalhadores que tivesse o perfil da Rel UITA com relação a este assunto”, disse.

“A abertura e o calor humano para tratar da questão da diversidade, desde a perspectiva de inclusão, faz da Rel UITA pioneira no mundo sindical.

É muito difícil de encontrar uma organização que una o discurso com a práxis. Portanto, qualquer parceria com a Rel UITA e com a Union to Union será mais que positiva, e enriquecedora em si mesma.

Espero que essa parceria tenha longa vida”, enfatizou.