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Com Artur Bueno de Camargo
Consequências do veto da UE às importações de frango do Brasil

“Um cenário muito complicado”

Nesta quinta, 19, a União Europeia decidiu, por unanimidade, proibir a entrada de carne de frango proveniente de 20 avícolas do Brasil. As confederações brasileiras que representam trabalhadores e trabalhadoras do setor estão profundamente preocupadas. Falamos sobre isso com Artur Bueno de Camargo, presidente da Confederação Nacional de Trabalhadores da Alimentação e Afins (CNTA Afins)

-Que impacto terá esta medida da UE?
-Vínhamos trabalhando com empresas do setor frigorífico desde que se deu a terceira etapa da operação Carne Fraca, que embargou empresas do grupo BRF por detectar fraude nas instalações sanitárias.

Sabíamos que esta situação teria consequências para os trabalhadores e as trabalhadoras do setor, mas, com essa resolução da UE, o cenário se complica bastante.

O Ministério da Agricultura já havia levantando restrições para a exportação das avícolas da BRF, mas agora a UE determinou o veto a 20 frigoríficos.

Este embargo do mercado europeu tem muito mais de batalha comercial que de condições sanitárias em si.

Nossa principal preocupação é o impacto sobre os trabalhadores e as trabalhadoras.

-Que medidas estão tomando para amenizar as consequências deste novo golpe contra o setor?
-Estávamos nos reunindo com a Contac para buscar possíveis soluções para a crise do setor, que se agravou com as investigações da operação Carne Fraca.

Diante desse novo cenário, teremos uma reunião na terça, 24, na Federação da Alimentação do Rio Grande do Sul, onde reafirmaremos nossa estratégia de defender os empregos.

E na quinta, 26, teremos uma audiência no Ministério do Trabalho para solicitar sua intervenção frente à UE.

É necessário que o governo tome as rédeas do caso na busca de uma saída que preserve os postos de trabalho que estão em perigo.

-Fala-se de uns 40 mil empregos em risco...
-Já há centenas de trabalhadores da indústria frigorífica em férias coletivas e, se o governo não intervier, seguramente muitos outros postos de trabalho desaparecerão.

Estamos cuidando para que isso não aconteça, porque os trabalhadores e as trabalhadoras não têm nenhuma responsabilidade, pois é um tema de má gestão empresarial.

O governo deve garantir que o impacto social seja o menor possível.

O monopólio empresarial
Um fator oculto na crise dos frigoríficos

-A atual crise do setor, que até pouco tempo era o mais próspero, e em onde se registrava desemprego zero, deve-se unicamente à má administração?
-Uma má administração salpicada por casos de corrupção dos principais líderes das companhias do mercado frigorífico é um dos fatores, mas há outro, que ninguém associa com a atual crise, e que é muito importante: o monopólio dentro do setor.

Quando denunciávamos pela CNTA a formação de monopólios, que começaram com o governo Fernando Henrique Cardoso e se fortaleceram nos sucessivos governos do PT, nos diziam que éramos do contra, que não queríamos fortalecer a indústria etc.

Das 20 avícolas que a UE rejeitou, 12 são da BRF. Com essa proibição de exportar, esta empresa terá que comercializar produtos no mercado interno, gerando um excedente de oferta e deixando os pequenos produtores em xeque.

Os pequenos não poderão competir em matéria de preços e, consequentemente, não poderão se manter no mercado.

O monopólio gera toda uma cadeia de efeitos negativos e é nestes casos que isso se torna muito perceptível.

 


Foto: Gerardo Iglesias