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Com Luis Pereira
O trabalho nos frigoríficos

Um antes e um depois da NR36

O presidente do Sindicato de Ponta Rossa e Região (STIMLACA) conversou com A Rel sobre a pretensão do governo brasileiro de modificar a NR36, que regulamenta as condições de trabalho na indústria frigorífica.
Foto: Rel UITA

“Qualquer tipo de alteração na Norma Regulamentadora 36 (NR36) significará voltar aos tempos sombrios em que a maioria dos trabalhadores e das trabalhadoras dos frigoríficos tinham que andar com as suas mãos enfaixadas, e colocando pomadas anestésicas para cavalos nos ombros e nos braços, porque só assim aguentavam o ritmo”, disse Luis Pereira para a Rel.

O dirigente, que também é trabalhador de um frigorífico, lembra que várias de suas companheiras do setor de corte e desossa do frango, onde é feito o refile (retirada das gorduras e dos coágulos de sangue dos frangos), terminaram aposentadas por invalidez.

“Antes da NR36, o ritmo nas linhas de produção era tão intenso e as condições ergonômicas tão ruins, que essas trabalhadoras permaneciam o tempo todo com a cabeça para baixo, limpando frangos praticamente durante toda a jornada de trabalho, só parando para o almoço”, relata.

Como consequência desse ritmo insustentável, há pouco menos de uma década, os frigoríficos avícolas no Brasil se transformaram em verdadeiras fábricas de doentes.

“Antes de que fosse aplicada essa norma, as lesões por esforços repetitivos (LER) invalidaram muitas companheiras. As empresas, em sua enorme maioria, sempre tentavam driblar as responsabilidades, alegando que as doenças não eram causadas dentro do ambiente de trabalho”.

A NR36 foi elaborada e discutida em um ambiente tripartite, entre governo, empresários e trabalhadores, e o processo demorou 15 anos.

A luta do movimento operário, liderado pelas confederações do setor de alimentação, com o apoio da UITA, foi fundamental para que em 2013 esta norma fosse aprovada.

Agora, o governo de Jair Bolsonaro, em cumplicidade com os empresários do setor, pretende introduzir modificações na norma. Para os trabalhadores dirigentes sindicais, essas mudanças serão para pior.

Armadilhas e alterações

“As pausas e outras várias disposições impostas para adequar ergonomicamente os ambientes de trabalho nos frigoríficos levaram a uma importante queda na cifra de trabalhadoras e trabalhadores lesionados”, disse Luis Pereira.

“Ainda que existam empresários inescrupulosos – acrescenta – buscando evadir a norma, há casos de frigoríficos onde o patrão obriga os trabalhadores a usarem suas pausas psicofisiológicas para irem ao banheiro, conduta especificamente rechaçada pela NR36”.

Luis Pereira denuncia também que todos os sindicatos do setor precisam permanecer atentos e controlando os ritmos, porque há empregadores que alteram as nórias, para assim acelerarem a produção.

“Graças à NR36, as organizações sindicais podem realizar os controles e adequar as condições de trabalho, porque temos um apoio legal. Se modificarem isso, flexibilizando as medidas, o retrocesso será imenso”, adverte.