-Quanto tempo trabalha no setor canavieiro?
-Já vão 4 anos.
-Onde está trabalhando hoje?
-Na Raízen.
-Qual é a sua função e qual é a jornada de trabalho?
-Sou motorista carreteiro e a jornada de trabalho é de 8 (oito) horas, mas acaba dando 10 (dez) ou 11 (onze) horas devido ao trajeto.
-Qual é o salário? Nesses 4 anos o salário vem aumentando?
-O salário hoje gira em torno de R$ 1800,00 na carteira. O salário continua quase a mesma coisa, a diferença é pouca.
-Recebe pelas horas extras?
-Quando registra no ponto, sim, mas, as horas de trajeto não recebo. Faz pouco tempo a gente estava fazendo 12 horas, mas, já cheguei fazer 14 - 15 horas.
Nosso horário é das seis as seis, passou das seis da tarde já não ganha mais a hora extra. Não sei se é por causa da nova lei aí, mas o negócio de 12x36 aqui não vinga não.
São 12 horas direto, 5x1. Bem cansativo. Tem gente que chega em casa as 8 ou 9 horas da noite e só recebe até as 6.
-O salário é suficiente para atender as necessidades em casa? Sobra para lazer e educação?
-O salário é só para manter a casa, lazer é muito difícil, não sobra, menos ainda para investir em educação.
-Existem locais para refeição e banheiros disponíveis para trabalhadores que desempenham a sua função?
-Locais para refeições são muito difíceis de achar, quando acha fica longe do carregamento. E outra, é muito difícil parar para refeição.
Banheiro é a mesma coisa, só quando acha na área de vivência, mas é muito difícil também. Fica muito longe e, às vezes, nem dá pra ir. E quando está perto, vai ver e está quebrado o banheiro.
-Recebe adicional de insalubridade?
-Não, não recebo.
-Como o senhor acha que a empresa pode valorizar o seu trabalho?
-A empresa para valorizar seus funcionários tem que pagar bem e dar condições adequadas de trabalho.
Não adianta nada trabalhar certinho, o dia inteiro e chegar ao final do mês e não receber aquilo que a sua função merece receber.
É muita responsabilidade, mais ainda no trabalho noturno, perigo toda hora e transporte canavieiro é bem complicado. As estradas também não ajudam.
-Já sofreu algum tipo de acidente durante o trabalho?
-Já machuquei a coluna, agora de vez em quando começa a doer.
Foi um tranco que recebi no caminhão, passei numa valeta e o caminhão me jogou para um lado e depois para o outro lado, aí deu aquela torcida nas costas. Até hoje eu sinto. Já conheço muitos acidentes que aconteceram com meus colegas.
-Pode relatar alguns acidentes que o senhor tenha conhecimento?
-Teve um do ano retrasado, ele deu uma cochilada na curva, saiu fora e tombou. Acabou machucando o braço, os pulsos das mãos e fraturou um dedo também. Teve outro aqui na pista de Analândia também.
Com sono, perdeu o controle e tombou, mas, graças a Deus, não aconteceu nada. Teve outro caso no ano passado onde um motorista passou por cima de um buraco e o caminhão o jogou pra cima. Na hora que voltou para o banco, com o impacto, machucou a coluna, aí teve que operar.
Agora de tombamento já aconteceu comigo também, mas, isso foi por culpa da falta de manutenção e faz algumas semanas isso aconteceu com um rapaz, colega nosso. Ele acabou se distraindo.
-Gostaria de acrescentar mais alguma informação?
-A única coisa que eu tenho para acrescentar é que somos registrados numa função, mas exercemos outra. Sou registrado como motorista carreteiro, mas, na verdade, trabalhamos com rodotrem.
O certo seria ter o registro como motorista de rodotrem, mas as usinas, não sei o que acontece, podem registrar como motorista. Mas, como eu trabalho para a transportadora, não é certo eu ser registrado como motorista carreteiro.
O certo seria motorista de rodotrem, mas, como o salário é bem mais alto, eles não colocam. E também quero dizer que o trabalho noturno é bem complicado.
Quem trabalha a noite não descansa muito bem. Por mais que a pessoa fale que descanse e tudo, vai ter um dia que a pessoa não vai estar bem para dirigir não.
Jornal FERAESP
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