Com Álvaro Macedo
Fontes de trabalho ameaçadas
A situação enfrentada pelos trabalhadores dos moinhos de arroz no Uruguai é extremamente preocupante. De acordo com números oficiais, como consequência de mudanças no sistema de exportação no setor, um número significativo de trabalhadores está em regime de subsídio por desemprego.
Amalia Antúnez
11 | 10 | 2023
Foto: Foemya
Segundo explicou para a Rel, Álvaro Macedo, integrante da direção nacional da Federação de Operarios e Funcionários de Moinhos e Afins (FOEMYA), o principal problema por enquanto é conjuntural: “a venda do arroz tal como sai do campo”.
Conhecido como arroz em casca ou paddy, esse produto “não chega aos moinhos para ser processado, o que está levando várias empresas a deixarem os funcionários em regime de seguro-desemprego.”
Entre as fábricas afetadas estão aquelas em Montevidéu, Salto e Lascano, pertencentes à empresa Samán, de propriedade da brasileira Camil.
“Estas três fábricas estão paralisadas, cujos funcionários estão em seguro-desemprego. No caso de Montevidéu, além disso, a empresa terminou transferindo o moinho para o interior do país, na localidade de Varela, a 250 quilômetros da capital, com o argumento de ser muito caro transportar o arroz até Montevidéu.”
Para Macedo, isso gera mais uma dificuldade à já delicada situação dos trabalhadores do setor, pois ameaça a estabilidade do emprego, especialmente no interior do país, onde os moinhos representam uma fonte significativa de emprego e renda econômica.
“Para os produtores, é uma opção interessante vender o arroz em casca, pois recebem um pagamento mais alto do que pelo arroz processado. Esse sistema de exportação sempre existiu, mas como algo paralelo e em porcentagens menores do total de arroz vendido”, explica.
As exportações de arroz não processado nunca ultrapassaram os 14 por cento. Entretanto, atualmente superam os 20 por cento. Em termos de toneladas, isso representa cerca de 300.000, um número que manteria em funcionamento três moinhos durante todo o ano.
Como solução para essa crise que afeta cerca de 3000 trabalhadores diretos, a FOEMYA sugere que o governo estabeleça um limite para as exportações de arroz paddy. As associações de produtores, por sua vez, propõem uma restituição do imposto sobre o arroz branco, algo que o líder sindical vê como menos provável.
Embora a conjuntura atual seja favorável para os produtores, eles não sabem se isso se manterá ao longo do tempo, daí a proposta de redução de impostos para salvaguardar a indústria.
“Tivemos várias reuniões com representantes do governo, mas até o momento não recebemos respostas. Continuamos insistindo, contando também com o apoio do prefeito de Salto, Andrés Lima, e do legislador do Partido Socialista, Pablo Fuentes, para esta situação não se tornar estrutural”, destacou.
Paralelamente a essa conjuntura na indústria do arroz, a Federação enfrenta vários conflitos com a empresa Samán, adquirida em 2007 pelo Grupo Camil Alimentos, uma transnacional de capitais brasileiros, presente em diversos países da região.
“Como primeira medida, a empresa demitiu 70 trabalhadores terceirizados e enviou outros 60 para o seguro-desemprego, 30 trabalhadores numa primeira etapa e os outros 30 em uma segunda etapa. O argumento é a diminuição da matéria-prima para a produção e a reavaliação do sistema produtivo.”
Conforme explica o dirigente sindical, o grupo empresarial aplica uma política que diz escutar as reivindicações dos trabalhadores, mas cujas decisões tomadas pela gerência negligenciam completamente o dialogado entre partes.
“O cenário atual, com tantos trabalhadores em regime de seguro-desemprego, enfraquece o poder de negociação das organizações sindicais. E, sem um interlocutor disposto a dialogar para encontrar soluções comuns, torna-se muito difícil realizar ações de pressão mais efetivas”, afirma.
Em outra questão, surgem alguns conflitos relacionados à interpretação arbitrária do convênio coletivo e à aplicação do código de ética interno, considerados inaceitáveis, pois violam os direitos individuais.
“Cabe destacar que nós da Federação não defendemos ações ou comportamentos condenáveis praticados por qualquer trabalhador, entretanto esta gerência promove um tratamento diferenciado para as questões disciplinares, quando estas envolvem trabalhadores sindicalizados, aplicando-lhes regras inaceitáveis em comparação ao tratamento dado ao trabalhador que não for filiado”, denunciou Macedo.